Não toque Raul

Olhando aqui - pra todos aqueles textos que escrevia, pra todas as fotos que eu insistia pra tirar comigo, pra todo aquele clichê de namorado, pra todas as cartas que eu guardei na minha caixa verde de memória (e que hoje eu tive que ler, uma por uma, mesmo sabendo a grande dor que isso iria ocasionar), pra todos os presentes que eu tinha espalhado pela casa, mas que agora estão dentro da mesma caixa, pra todos aqueles mimos que eu joguei dentro de um saco pra tentar te mandar embora, pra letra de música que escreveu e que somente me mostrou quando eu te disse adeus - pra dentro de mim, eu reconheço meu orgulho. Orgulho ferido. Mágoa por tentar e não ter chego a lugar nenhum, por amar e não acreditar que amava. Olhando pra dezembro, olhando pro dia de amanhã (no caso hoje), seu aniversário, daqui a nove dias, três anos desde a primeira vez que nos vimos. Olhando pra mim e perceber que eu me prendi a dias e datas que antes eu nem lembrava ou fingia esquecer. Olhando pra todas as coisas que eu escrevi e não te mostrei. Tanta coisa naqueles contos que eu fiz sobre nós - é, eu perdi muito tempo nisso. Olhando pra semana passada, quando fugiu dos meus olhos, quanto tentou se esconder de você mesmo, quando fingiu não me conhecer. Orgulho meu que aumentou o ego. Às vezes alimenta meu arrependimento, às vezes quero desejo por desejo. Medo, peso ou pesadelo se perdem nos dias que eu passo sem você. Cresci tanto. Aprendi tanto. Mas é inevitável. Sinto muito sua falta, essa é a verdade; guardo lugar pro que não virá. Não volto atrás. Não vivo de novo. Não apelo pra felicidade esquecendo-me da dor.
E o desejo depois de tanto tempo... Eu só quero te desejar a LUZ que tanto saiu pra procurar e que não sei se realmente a encontrou ou se apenas encontrou mais um lugar pra se refugiar das pessoas que te amavam. Que agora, nesse deslize de saudade, eu possa dizer: É, eu estou feliz.
Andamos muito de mãos dadas, vivemos os dias que éramos pra viver, respiramos do mesmo ar; não preciso de mais.
Hoje será um dia. Apenas mais um, involuntário e sem razão.
Mas pra que razão se tudo o que precisa durar, dura dentro da gente?

(A sorte não mais soube ganhar. Pelo menos, não pra nós)

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