Rise
Quando eu penso na minha vida desde o meu nascimento, me questiono qual foi minha função ter vindo parar aqui. Deve ser um questionamento corriqueiro na mente das pessoas, mas ultimamente isto tem tirado meu sono. Tem dias que acredito que vim para ser culpada dos problemas das pessoas. Em outros, de ser depósito das frustrações alheias. Na maioria das vezes, eu penso que vim apenas para servir de saco de pancada de gente que não conseguiu ser aquilo que queria ser e depositou todas as suas angústias, sofrimentos e perdas em mim. Apesar de soar triste, eu sempre entendi isso. Eu não pedi pra nascer, já dizia aquela música tosca, mas hoje, nesse dia tão importante para a sua vida, eu percebo que vim para o mundo para ser sua sobrinha. Minha mãe vive dizendo que eu amo mais você do que a ela, mas nunca ninguém vai entender o amor que sinto por você. É aquele amor puro, que a gente não espera nada em troca. É amar poder contar as minhas coisas para alguém sem ser julgada. "Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim". É amar chegar em sua casa e ficar vendo você fazendo seu crochê ou qualquer artesanato. É amar chegar em você, todos os dias, e ter um repouso para minha mente tão cansada de tudo e de todos.
"O que você tanto cheira na Andréia, Ana Clara?" - Todo dia alguém me pergunta isso. Eu simplesmente não entendo. É algo tão natural que virou minha rotina. Sentar no sofá com você e ver algum filme antigo que tanto gosta. É poder ficar em um lugar sem ser humilhada, questionada ou cobrada.
Quando eu lembro de você, Andrana, eu lembro que grande parte das coisas que eu gosto foi porque me apresentou. Nosso mozão Eddie Vedder. Legião Urbana. Érico Veríssimo. Rubem Alves. Artesanato. Um amor para recordar. Na Natureza Selvagem. O tempo e o Vento. Minzinha. Grossa. Alladin no Super Nintendo. Buraco e Paciência. Gratidão. "A felicidade só é verdadeira quando compartilhada".
E como não querer ver uma pessoa dessas todos os dias? Como minimizar a sua importância na minha vida? Eu não consigo. Não consigo esquecer de tudo o que fez por mim. Das incansáveis conversas. Das incontáveis vezes que secou minhas lágrimas. Dos puxões de orelhas. Da sua fé em mim. Por nunca ter desistido de mim, mesmo eu sendo essa loucura de pessoa.
Preciso confessar que há mais de um ano uma imagem não sai da minha cabeça: no dia do meu casamento, você indo embora e me deixando lá, naquele manicômio porque eu fui grossa com você (assim como nos preparativos do casamento). Me dói e me envergonho tanto disso, tia. Eu sei que no fundo você me perdoa, mas eu simplesmente não consigo olhar para você sem pensar nisso. Eu sinto tanto, tia. Tanto por ser tão estourada e nervosa justamente com você, que nunca mediu esforços para me ajudar.
Eu sei que você vai demorar alguns dias para ler isso, mas sei que (como sempre) irá ter um tempo para eu e minhas palavras. Só queria te lembrar que a sua vida fez sentido até aqui: você passou pela minha (e todos que ajuda) e a tornou mais feliz. Eu não teria sido nem metade do que sou se não fosse pelo teu incentivo. Eu não teria aprendido a perdoar meu pai. Eu não teria aprendido a me perdoar. Eu não teria aprendido a compreender minha mãe. Eu não teria começado a faculdade de Jornalismo (nem de letras). Eu não teria feito tanta coisa sem você, tia.
Meu carinho e gratidão por ter nascido nesse mundo sendo sua sobrinha é algo que jamais acabará. Obrigada por todos os filmes, músicas, autores, atores, coisinhas de menina e momentos compartilhados até aqui. Daqui a pouco, com seu novo coração, mais uma nova onda de coisas boas e novas nós iremos viver. Obrigada por me acolher em sua casa, por me ensinar que o amor existe e que felicidade realmente não se compra.
Eu te amo.
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