Sobre roupas, paranoias e outras crises

Você se veste com o seu passado e nem percebe. Eu vejo que lhe cai bem, mas não é do meu feitio aceitar as coisas simplesmente para evitar desafetos. Chega a certo ponto do dia, e eu me lembro de suas vestimentas, que preciso suplicar sossego. Pra minh'alma tanto quanto imploro pro meu peito. Rendo-me aos dias em que morro de amor a esmo, sem bem me quer ou sorrisos à toa. Pago com o coração, sempre digo, todos os sonhos desperdiçados sobre a camiseta que não foi presente meu. Provoca o choro que sai do meu espírito, como se fosse de propósito. Com a mágoa de sempre. Com os motivos de antes. Eu sei que sou maior que a dor e que a vida que lhe dou. Já cansei de me trocar pra te agradar e ainda ter de aceitar o seu passado vestido em você. Eu guardo rancor como quem guarda felicidade. Não aprendi a esquecer o que vejo, como se tudo não fosse verdadeiramente dolorido. Eu não sei esquecer. Eu não sei aguentar calada. São roupas, paranoias e tantos caminhos desviados que não me deixam ser sem me sufocar antes. Procuro encontrar formas de evitar teu gosto por outros gostos, mas é mais forte do que eu. Não sei aceitar a ideia de te perder pra outro alguém, que te vestirá com outras, e tantas outras, roupas que não serão dadas por mim.

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