Desperdiçando nós dois

Não consigo mais proteger meu coração das minhas expectativas. Tudo isso apimentado muitas vezes pelo ciúme exagerado, a falta de interesse pela rotina do outro, o silêncio quando é pedida a fala, a solidão a dois. Perde-se a essência do que se foi um dia, para tornar-se a essência das expectativas do outro. Agrado, mas sei que não é de bom grado. Tento superar meus medos por entre minhas lágrimas, mas todas elas são derramadas à esmo, num deslize de erros e contradições que não me deixam pegar no sono, muito menos seguir adiante. Não consigo conter o meu desprezo. Tudo isso amargurado por entre minha insatisfação, que quase sempre acaba em reticências. Perde-se tudo o que foi falado, tudo o que foi sentido e tudo o que poderia ser. Implico demais por algo que sei que irá durar de menos. Nada é tão satisfatório como a troca de fidelidade, indiretamente ou pensada para não ferir alguém. A gente espera por algo que não vale a pena. Vivemos num ciclo que tem fim, e que pode ser muito bem amanhã, ou daqui a dez minutos. Nunca se sabe o que teremos um do outro, a não ser palavras desperdiçadas por lábios perdidos em labirintos sem final feliz. Não consigo prender a gente no futuro que imagino para nós. Tudo fica se remoendo no passado que ainda não passou, e muito menos irá passar. Somos figurantes da própria felicidade, que não prevalece sob nosso suor. Perco-me nas lembranças que me remetem aos seus olhos, nos seus dentes branquinhos e as suas mãos quentes e firmes. Finjo cordialidade, mas não consigo esquecer a dor que me causa. Não consigo me lembrar o começo deste fim, que a gente tenta todos os dias não dançar. Tudo está sem possibilidades e a fantasia perdeu a cor. A gente espera muito de nós, esquecendo de que apenas precisamos estar a


sós.

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