Voltando para dezembro

Todos os dias eu volto para dezembro, no começo de nossas vidas, naquele ano que custou a passar. A sintonia que permanecia em nosso caminho era mais bonita do que a chuva que insistia em cair quando estávamos juntos. Eu volto para o bem que você me fazia, quando eu apenas sobrevivia a mais um dia de loucuras intermináveis. Eu volto para teu rosto, quando chorava ao se abrir a cada sábado que ficávamos, finalmente, sozinhos em casa. Era como se o Sol que não entrava pela janela, brilhasse em suas mãos quentes e aconchegantes, me fazendo crer que a vida podia, sim, ser muito melhor. Eu volto para os nossos passeios à esmo, em segundos que pareciam não ter fim. Dançávamos a nossa melodia predileta a cada instante em que o mundo parava de rodar. Era como se o nosso presente fosse sempre uma celebração de boas-vindas. Eu volto para as músicas que me fez gostar, pras poesias que me fez decorar para me falar ao pé do ouvido, quando tudo já tinha desabado lá fora. Eu volto para seu jeito romântico-fofo de ser, quando me fazia lembrar da pessoa boa que eu era para você. Éramos o encaixe perfeito para a lacuna aberta dentro de nossos corações. Eu volto ao instante daquele filme bobo que me fez assistir, quando finalmente disse que me amava. Celebrávamos a união que tanto tínhamos sonhado, gravando em nosso corpo que do nosso amor, só a gente sabia. Eu volto para os nossos sonhos de adolescentes crescidos, que faziam parte da vida que queríamos ter a dois. Era como se a imaturidade de nossas idades fosse apenas uma parcela dos acertos que poderíamos ter arriscado. Eu volto, todos os dias, para casa e sento-me no sofá cinza que tanto nos aconchegou. É como se dezembro, daquele ano, estivesse sendo vivido de novo. Parece uma piada! Faz mais de cinco anos que eu volto para nossas lembranças.

Eu volto para nós, para você, todos os dias, desde aquele adeus. É como se, na minha mente, nos meus livros, nas minhas fotos na parede, na minha colcha de retalhos, você ainda estivesse lá: preso em nosso dezembro.

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