sobre as coisas que eu não sabia





Hoje me dei conta que, de fato, eu não sei lidar com muita coisa. Sempre estive ciente da máxima de que relacionamentos são confusos e que as pessoas (e até nós mesmos!) são capazes de ferir umas as outras. Mas, achava que sabia lidar. E eu não sei. Não sei lidar com a ausência. Ora aquela que bate enquanto estou na mesa do trabalho, ora quando estou há mais de quatro horas do seu lado te esperando sair do seu posto. Também não sei lidar com outras pessoas desavisadas no meio da relação. Amigos e amigas fazem parte, tá bom, mas nem todos são. Nem todos querem o bem uns dos outros. Em outras pessoas, só mora o desejo incansável do caos e de causar a discórdia. Tudo bem, você finge que não sabe. Mas você sabe. Lá no fundo você sabe como são as pessoas. Eu faço força pra me permitir ser forte. Mas eu não sabia que ser forte é um treinamento diário, onde eu quase sempre invento uma desculpa para não me levantar e ir atrás. Eu não sabia que eu não conseguia ser pouca. Que não me bastava apenas carinhos, dedos entrelaçados e conchinha confortável na hora de pegar no sono. Eu não me dava conta de que, no fundo, a gente cava a nossa própria cova em relacionamentos. Os erros se repetem. A gente não aprende. Eu não aprendo. Eu não me dava conta de que eu repetia sem parar as incansáveis caras feias e os olhos de tristeza por não ter atenção. Eu não sabia que um simples “oi” não dado me faria desmoronar como quem perde um ente querido. Eu não sabia que poderia sentir tanta falta dos olhos que toda semana estão nos meus. A gente não se dá conta, porque quando acontece qualquer coisinha, tudo desmorona. Cê costuma reclamar que eu faço tempestade em copo d’água, né? De que eu preciso resolver meus medos e receios. Mas como dissolver as mágoas do meu coração se você as repete, ora com uma baixa frequência, ora como quem sabe que tá fazendo algo de errado? Você não percebe. Mas, eu, sim. Eu não sabia que dava para perceber as coisas fora de órbita. Cê gosta de gritar a todos os pulmões que faz de tudo por mim, mas o que de fato faz? Um carinho no meio da noite? Um beijo de despedida? Um “eu te amo” decorado em cada boa noite? Não é isso, não. Sabe? Isso não é nada menos do que eu mereço. E vice-versa. A gente merece essas coisinhas do cotidiano. Sentir o toque, aumentar o arrepio, prolongar o beijo. Mas o que precisamos fazer-de-tudo um pelo outro é mais. É mais do que “cheguei” ou “to indo dormir”. É a entrega diária. É perceber quando o outro não está bem, se aproximar e só ficar ali. Não é uma avalanche de perguntas e de questionamentos. “Por que você não me conta as coisas?”. Eu não sei se você sabe, mas tem coisas que não dão para contar. Tem fardos que a gente leva dentro da gente que são impossíveis de se explicar. Só estão aqui, diariamente, saca? Tem sentimento que não dá pra mensurar o tamanho. Tem dia que desejo te amar daqui até o fim das estrelas, mas em outros eu só desejo desabar de chorar embaixo da minha coberta de oncinha. E pra que tanto nervosismo por eu ser assim? Eu não sabia que lidar comigo fosse tão difícil. Desde pequena escuto que sou difícil, quase impossível. Menina bonita do gênio forte. Bonitinha, mas ordinária. Respondona. Reclamona. Chorona. Eu não conseguia mensurar o tamanho desse peso nas minhas costas. Não é fácil, todo mundo sabe. Mas eu não. Não sabia que seria tão difícil o caminho até a aceitação. O caminho do alívio da culpa. Os questionamentos que faço e que são vistos como vitimismo e, pior: grosseria. Não aguento mais ouvir isso. Eu não sabia que uma palavra conseguiria derrubar tudo o que lutei tanto pra ser. E eu luto, apesar da preguiça, sabe? Eu luto pra ser alguém melhor. Arrependo-me das pessoas que já choraram por alguma besteira que falei ou algo que tenha feito. Se pedi perdão? Não. Mas sei dos meus erros. E tento compensá-los de alguma maneira. Eu só não me dava conta de que as pessoas não pensam da mesma maneira que eu. Minha mãe sempre me disse que eu sou ética demais e que isso é um problema. E é. Eu não sabia, mas perceber um erro que ninguém mais percebe não é uma qualidade. Porque, sim, o senso de ética muda de pessoa pra pessoa. Você não acha errado uma ex namorada te ligar e te importunar as três da manhã. Eu acho. Porque eu já fui e sou ex namorada de alguém. E sei me colocar no meu lugar. Sei que, por mais que sejam boas as minhas intenções, a outra pessoa pode se machucar. E olha, a gente se machuca. Já faz mais de dois meses que esse fato aconteceu e ainda me dói. Porque eu sei que você não entende. Eu não sabia, mas você não entende. A gente não entende o outro. A gente não está preparado para entender o outro em sua totalidade. Por que vejo tanta coisa errada, quando apenas poderia enxergar tais boas intenções dos outros? Eu não sabia, mas lá no fundo eu perdi a esperança nas pessoas. Porque não importam mais a reciprocidade, a confiança, a lealdade e o amor. O que importa é continuar aquela conversa com um “oi sumida” mesmo sabendo que isso vai me doer. O que importa é continuar preso ao passado mesmo sabendo que o teu passado tá pouco se lixando pra você. Eu não sabia, mas no fundo ninguém consegue superar. Eu não sei porque diabos eu consegui. E eu esperava que todos conseguissem. Eu esperava que a sinceridade prevalecesse. Que as pessoas não gritassem comigo. Que não me fizessem chorar. Eu não sabia, mas eu realmente não aguento mais derrubar lágrimas. Não aguento mais pensar. Levantar. Viver. Eu só queria que você entendesse. Que o amor, embora tenha crescido consideravelmente nesses últimos nove meses, ainda me falta. Que apesar de te amar como jamais imaginaria que conseguiria, eu ainda espero que você seja pra mim alguém que não me machuque mais. Porque eu não sabia, mas eu não aguento mais cair.

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