Querida Lu.
O tempo passou muito rápido, não é? Ainda ontem eu estava sentada na mesa embaixo da escada de sua casa desenhando pinheiros. Lembra? Acho que desde que não a vejo mais, um pedaço do meu coração ainda está em partes pequenas. Também acredito que muita gente ao meu redor não entende de fato o porquê sinto tanto a sua falta, mas eu sinto. Você tinha um jeito só teu, sabe? Aquele acolhedor e sempre tão sutil. Sempre sem esperar nada em troca. Queria ter aproveitado mais. Ter fugido para sua casa quando as coisas não iam bem. Tipo agora. Como eu queria pegar o ônibus e descer na sua porta, e você estaria me esperando, provavelmente com a Susi no colo. Com aquela torta de frango e coca cola de vidro. Ou então brigadeiro. Ou seria um arroz e feijão quentinho e fresquinho? Tem sido difícil a vida aqui deste lado. Um vazio que me consome dia após dia. A rotina que não alimenta o desejo de continuar vivendo. O coração cada vez mais machucado e relutando para encontrar um pouco de paz. O corpo que pede descanso e a mente que não me deixa descansar quando eu mais preciso. Não sei como tem sido para você, mas aqui a gente tem que provar todo dia algo para alguém. Todo dia uma nova ferida que nunca cicatriza. Uma parte nossa que se perde e ninguém consegue achar - ou ter tempo para te ajudar a encontrar. Desse lado aqui, a gente passa tempo demais tentado ser boa e autossuficiente para todo mundo. Como se para que as pessoas te aceitem, você tem que dar algo e ser merecedor. A gente sabe que na teoria não é assim, mas quando chega na prática, durante a vida, fica difícil cair na real e entender que temos que ser quem somos; fazer o que queremos; e estar com quem nos merece. A gente também sabe que um dia isso tudo vai ser passado, e que não irá haver mais futuro, mas mesmo assim continuamos a brigar por besteiras. A gente defende ideais construídos com base no pensamento de alguém, quando deveríamos seguir o nosso coração. A gente enfrenta as pessoas esquecendo que são elas que movem o mundo. A gente esquece tanta coisa, Lu. Na hora da ira, não vemos razão ou sensibilidade. Não temos a noção do nosso poder de machucar o outro. Vivemos cansados e baseados no princípio de que temos que trabalhar a vida inteira para ter o que merecemos. E o que merecemos afinal? Essa pergunta ronda minha cabeça na grande maioria dos dias. Das noites. E dos segundos de ansiedade. Fazemos tanto para não termos nada. Ficarmos sozinhos. Enfrentarmos os próprios demônios no silêncio do nosso eu. Vivemos com hora para acabar e mesmo assim não aproveitamos. Volto a dizer que o tempo está passando cada vez mais rápido. Ainda ontem eu estava esperando o 103 com você no Jaçanã. E agora já estou aqui, acumulando fracassos, decepções e um monte de conta pra pagar. Nessas horas eu só queria te ver e me deitar toda torta no seu sofá com aqueles braços de madeira. Nessas horas eu realmente só queria correr até você.
Meu amor de sempre (ou mais).
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