Você não tenta esquecer?
- Tento. Mas no inconsciente eu quero lembrar. Lembrar é viver de novo. E quer coisa melhor do que viver todos os momentos passados?
Não achas um equívoco?
- Talvez. Mas o que é equívoco pra você?
Confusão, engano.
- Pode ser confusão, mas não é engano. O que eu vivi não foi por engano, mas confusão teve.
Pois bem. E agora, o que fazes?
- Faço nada. De que adianta correr atrás daquilo que é misterioso, que é duvidoso se mesmo assim sei a resposta para tal? De nada vale fazer a pessoa amada perceber o verdadeiro valor daquela que a ama, se ela não quer enxergar o que esteve abaixo de seus ouvidos há tanto tempo.
Mas...
- Sim, a saudade às vezes toma conta de mim. Mas ela é boa. Ela traz a lembrança de que o que eu senti, do que eu vivi não foi em vão.
Saudade não é dolorosa?
- Mas me diga o que na vida não dói? A gente precisa sofrer para arrancar a beleza da vida. Precisei disso para ver que os meus passos eram indecisos e perdidos.
Você é feliz?
- Sou. Mas eu poderia ser mais. Eu queria mais. Acho que ai está o erro. Quis ser melhor que a vida, quis que ela adiantasse toda uma jornada de caminhos incertos para que evitasse, talvez, uma dor, uma lágrima, um adeus...
Adeus?
- Para mim, adeus.
Nunca mais?
- Nunca é tempo demais. Eu não sei o que me aguarda, aprendi , agora, a viver intensamente. Viver sem se preocupar com o fim. Apenas com o meio da minha pequena longa vida.
Sem mais amor?
- Não, amor ainda há. O que não há é vontade de encará-lo, de torná-lo novamente real. Do que adianta ser real se no fim sempre há dor, sempre há despedidas? Não quero voltar a ver tudo isso de novo, ao menos agora, porque eu sei que os dias não foram vagos assim para eu esquecer e falar que foi ruim.
Você não fala nada além de seu grande amor?
- Talvez. Mas ai é que está: Ele é muito grande para passar despercebido pelas minhas frases. E não há como não falar de quem ainda toma conta do meu corpo, do meu eu.
Algo a mais?
- Não sei. É estranho pensar no fim. Prefiro terminar por aqui, posso ter mais o que falar com você daqui a uns tempos.
Tudo bem... Mas não parece que nos conhecemos há tempos?
- Estranho. Talvez seja o clima, o dia chuvoso ou esse banco onde estamos sentados. Essas rosas à nossa frente são tão vermelhas, não achas?
Eu sonhei com você assim, sabia? Sem te conhecer direito, eu a via dentre essas rosas expelindo um brilho tão intenso quanto o vermelhado delas. Uma pena não ter sido real.
-Ainda a tempo de fazer tudo valer à pena. Arriscar-se? Encarar?
Talvez esse não seja o melhor momento.
-Então, até além...
Quem sou eu
Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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