Aquelas tardes nunca foram as mesmas. Talvez porque antes mesmo de serem elas já haviam deixado de existir. Aquela torneira enferrujada e as gotas d’água que caiam harmonicamente não me deixavam concentrar na sua respiração que eu tanto queria acompanhar. O azulejo azul celeste e o eco que os nossos corações queriam preencher acabaram com os gestos estúpidos que fazia. A barba por fazer e aquela roupa surrada lembrava os dias que eu não havia presenciado ao seu lado. Se aquelas lágrimas tivessem escorrido, as coisas poderiam não ser as mesmas. Certamente, eu teria dito todos os meus escândalos presos em tumultuados dias de verão. Mas eu acabara de interromper o começo de uma dor maior do que eu mesmo possa acreditar. Preferi escapar, deixando um ponto na mão para trás, um botão aberto e uma garrafa de água vazia. O que é bom é fazer sobrar alguma coisa. Nem que for solidão. Evitar dizer que mora na minha cabeça dezembros e folhas de cadernos a rasurar o imprevisível fato de você não ser mais quem era. É bom mudar também. É bom se tornar um estranho. Mas o que é bom mesmo é ver que as coisas foram pra nunca mais voltar. Que, antes de abraçar-te amor, eu vi que dentro desses teus braços o vazio era sua companhia. Dia após dia sem você. Desiste. Tempo nenhum volta atrás. A torneira continuará a vazar. Os olhos irão continuar a secar. E o dia voltará a fechar.
Quem sou eu
Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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