Olhando aqui - pra todos aqueles textos que escrevia, pra todas as fotos que eu insistia pra tirar comigo, pra todo aquele clichê de namorado, pra todas as cartas que eu guardei na minha caixa verde de memória (e que hoje eu tive que ler, uma por uma, mesmo sabendo a grande dor que isso iria ocasionar), pra todos os presentes que eu tinha espalhado pela casa, mas que agora estão dentro da mesma caixa, pra todos aqueles mimos que eu joguei dentro de um saco pra tentar te mandar embora, pra letra de música que escreveu e que somente me mostrou quando eu te disse adeus - é como se eu deixasse tudo pra trás, tudo o que me fez ser assim hoje. Toda essa coisa que tanto dizíamos ser amor. De tudo isso e mais um pouco. Por reparar que meus pés se levantam lentamente quando fico tímida ou como coço a nuca quando estou nervosa. Por reparar na minha cara de choro e eu dizer: não tenho nada, é só um cisco. De trocar palavras e rir demais depois disso. Por termos vivido ao invés de sonhado. Mantivemos esse tempo com os pés no chão. E só de te ver, assim, tão você, me veio esse filme todo na cabeça. Eu não podia com isso. Mas me fez voltar ao seu aniversário, a surpresa e as suas lágrimas de felicidade. Parece que foi agora, agorinha. Você sorria tão docemente que eu percebi que a sorte soube sim ganhar para nós. Agora eu entendo que essas coisas, essas coisas como frio na espinha, pernas balançando, bochechas ficando vermelhas e de corpo estremecido, fazem parte da lembrança. Nossa lembrança e de tudo o que veio depois daquele dezembro. Entendo que "tempos bons não voltam mais". Entendo a mágoa por tentar e não ter chego a lugar nenhum, por amar e não acreditar que amava. Olhando pra dezembro, olhando pra hoje, daqui a nove dias, cinco anos desde a primeira vez que nos vimos. Olhando pra mim e perceber que eu me prendi a dias e datas que antes eu nem lembrava ou fingia esquecer. Olhando pra todas as coisas que eu escrevi e não te mostrei. Tanta coisa naqueles contos que eu fiz sobre nós - é, eu perdi muito tempo nisso. . Medo, peso ou pesadelo se perdem nos dias que eu passo sem você. Cresci tanto. Aprendi tanto. Mas é inevitável. Sinto muito sua falta, essa é a verdade; guardo lugar pro que não virá. Não volto atrás. Não apelo pra felicidade esquecendo-me da dor. E o desejo depois de tanto tempo... Eu só quero te desejar a LUZ que tanto saiu pra procurar e que não sei se realmente a encontrou ou se apenas encontrou mais um lugar pra se refugiar das pessoas que te amavam. Que agora, nesse deslize de saudade, eu possa dizer: É, eu estou feliz.
Andamos muito de mãos dadas, vivemos os dias que éramos pra viver, respiramos do mesmo ar; não preciso de mais. A única coisa que sobra é essa alegria de compartilhar mesmo que de longe sem você perceber, o meu riso com o teu.
E hoje, então, será um dia. Apenas mais um, involuntário e sem razão.
Mas pra que razão se tudo o que precisa durar, dura dentro da gente?
Quem sou eu
Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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