Com o passar do tempo, eu pude perceber que eu sempre fui a pessoa a quem as pessoas recorriam quando tinham medo dos seus problemas. Mas, era difícil alguém ter tempo para ouvir sobre os meus receios. As poucas pessoas que tive na minha vida que realmente se importaram, foram embora. É uma dor sem fim saber que nenhuma delas irá voltar. Meu primeiro amor, a minha Lu, o meu avô e a minha dolorosa desilusão. São lembranças que ainda escorrem pelos meus olhos, que dançam a imaturidade do meu ser ao achar que a vida ainda pode me surpreender. Há alguns meses perdi a pessoa a quem eu mais amei na vida. A quem eu mais dediquei em dar aquilo que eu tinha de melhor, mesmo eu não tendo nada. Perdi quem eu acreditava ser o encaixe das minhas noites em claro, das minhas músicas sem sentido e do meu vasto devaneio. Há dois meses, perdi o meu Totoca, o meu eterno vô Totoca. E eu nunca pude agradecê-lo por tudo o que ele fez por mim. Nunca pude agradecer a minha querida Lu tudo o que ela me ensinou. Há meses eu não olho nos olhos do meu pai, por puro rancor. Eu não sei mais permanecer a sua frente e esquecer as palavras que ele me atira todos os dias. Eu pensava que o tempo jamais chegaria para as pessoas que eu amo, e não tive a chance de dizer o quanto eu prezava para estar sempre ao lado deles. Talvez a vida seja só essa coisa louca que não me deixa dormir durante as madrugadas. Eu tenho medo de nunca conseguir esquecer as minhas mágoas. Eu tenho medo de esquecer as coisas boas que meu avô e minha querida Lu fizeram por mim. Medo de não saber o caminho de volta, de não encontrar uma saída e de me prender dentro da minha solidão. Dói. Dói pra caralho viver sozinha e não há nada que me digam que me façam esquecer essa dor. Eu tenho medo de nunca conseguir dar o braço a torcer e perdoar quem me deixou. Eu tenho medo de nunca voltar atrás nas minhas decisões. Medo de nunca conseguir deixar para trás o que me fizeram de ruim. Eu tenho medo de nunca conseguir esquecer a imagem do meu pai bebendo a sua pinga de todos os dias. Eu tenho medo de nunca conseguir perdoa-lo. De me perdoar. Eu tenho medo de não conseguir suspender as minhas expectativas e aceitar o que a vida me dá.

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