Sobre quando não podemos ficar com o amor de nossa vida
Eu nunca acreditei no amor.
Ora, como o amor pode ser uma coisa boa se ele nos mostra o pior de quem a gente é e sempre nos decepciona em algum momento da vida?
Foi assim os primeiros 15 anos da minha vida. Até que eu o conheci, naquele lugar de paz e silêncio,
que eram totalmente o meu oposto. Quando eu vi aquele par de olhos castanhos escuros pela primeira vez, senti todo meu corpo estremecer. Acho que aquilo ali foi a primeira vez que senti amor por alguém (fora minha família) na vida. Eu simplesmente não consegui mais esquecer.
Foi então que eu aprendi a acreditar no amor. E eu acreditei no amor porque eu vivi ele.
Vivi aquele tipo de amor que explode cada um de seus órgãos num fogo incontrolável, que mesmo depois de anos irá continuar ardendo quentinho e (des)confortável por dentro. Aquele tipo de amor que a gente chora nos filmes ou que a gente finge que não lê naqueles livros melosos. É aquele amor que lhe ensina mais do que você jamais pensou que pudesse aprender e lhe devolve infinitamente mais do que tira de você. Foi aquele tipo de que "do nosso amor, a gente é que sabe".
É assim que acontece com grandes amores.
Se temos sorte, iremos ficar com ele e aprender, além de entregar-se inteiramente a ele e deixar que sua influência o transforme de maneiras insondáveis. É uma experiência diferente de qualquer outra coisa que podemos ter neste mundo. Acredite: o amor é capaz de tudo isso.
Mas o que ninguém conta sobre os grandes amores de uma vida é que nem sempre poderemos ficar com ele pra sempre. Quer dizer, esse pra sempre ficará num lugar seguro em seu coração, mas durante os dias a única coisa que você terá será a lembrança de que amar é uma coisa do caralho.
E isso acontece porque o amor não é garantia de que iremos conquistar tudo. Porque o amor não resolve as diferenças entre as pessoas, não cura todas as doenças, não cria um jeito de não pensar em besteiras e muito além: não nos salva de nós mesmos quando nos corrompemos. A gente não pode ficar com o amor das nossas vidas porque para uns, o amor não é tudo o que existe.
Tem hora, que você vai querer o sossego da sua casa e ele vai querer ser o melhor profissional do mercado. Em outras horas, você tem o mundo inteiro para explorar e ele não quer nem se levantar da cama. Noutra, você quer apenas que ele te escute e ele não irá te escutar porque não está bem. Na maioria das vezes, os seus sonhos não são iguais.
E é neste momento que a gente tem que aceitar a perda e deixá-lo ir embora. Nesse momento, a gente não tem muita escolha. E aí que entra algo que também não aprendemos sobre o amor: o fato de você não passar o resto de sua vida com essa pessoa não diminui a importância dela.
Algumas pessoas você pode amar mais em um ano do que poderia amar outras pessoas em 50 anos. Algumas pessoas podem lhe ensinar mais em um único dia que outras poderiam lhe ensinar durante uma vida inteira. Algumas pessoas entram em nossa vida apenas por um período específico, mas têm um impacto que ninguém mais jamais poderá igualar ou substituir.
E como podemos deixar de chamar essas pessoas de qualquer outra coisa senão o grande amor de nossa vida?
Aprendendo a nos conhecer. A não denegrir a imagem dele. A não minimizar as memórias, nem as conquistas, nem as coisas boas que passaram juntos. Não é porque vamos seguir um caminho diferente que temos que esquecer a forma como eles melhoraram as nossas vidas.
Não precisamos achar que temos que substituí-los. As pessoas são insubstituíveis. E a gente precisa apenas sentir gratidão por termos podido conhecer alguém como eu conheci o amor. Porque eu sou grata a vida por ter me colocado na vida dele. De ter aprendido com ele. Porque eu pude ser uma pessoa melhor pelo simples fato de ter acordado ao seu lado em alguns dias. Porque eu tive a capacidade de fazer o bem para ele, mesmo ele não querendo.
Aprendi que deixar o seu amor ir embora não é a maior tragédia de uma vida.
Eu permiti a não me culpar.
Desde que ele foi embora, eu aprendi que tem amores que duram para sempre, onde quer que eles estejam. E o que eu posso fazer é ser apenas grata a vida por ter tido a chance de viver e reviver um amor.
Quantas pessoas nunca chegam a conhecer o seu grande amor?
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