coming around again



“I know nothing stays the same…” começa a falar a música que toca no meu fone de ouvido há alguns dias. As coisas começaram a andar no meio fio da calçada, igual quando a gente é criança e tenta se equilibrar naquele pequeno fim da calçada que chega na rua. Há quem se entrega pura e verdadeiramente para não perder o equilíbrio de vez. Há quem apenas finge se divertir com essa brincadeira boba e cheia de ressignificados.

Gosto de pensar que em algum lugar do mundo tem alguém profundamente acordado esperando por esse momento de encontrar o próximo meio fio. Há, também, quem está tentando superar a queda - provavelmente em algum lugar bem longe de mim - assim como eu. Talvez eu tenha sido a pessoa que sempre andou no meio fio ao longo da vida, sempre com tanta força e sutileza ao meio tempo, esquecendo que teria quem pudesse me derrubar.

Andar no meio fio é como o amor.

Esse amor que a gente se equilibra em corda fina e bamba. Gosto de pensar que tem gente que ainda entenda que o amor possui opostos bem confusos, entre a força e sutileza, que quando caímos, ainda há aquela coisa que fica. Ninguém nesse mundo consegue me dizer se é uma coisa boa ou ruim, mas é sempre alguma coisa que fica: algo entalado, engasgado, ou nem entalado ou nem engasgado, mas é uma presença estranha dentro do peito - e da cabeça.

Você que está lendo e tentando descobrir que música eu escuto, é uma versão do Copeland de coming around again, porque tudo isso já me aconteceu outra vez: andar no meio fio e cair ao ser derrubada. A gente vai inventando desculpas pro que não temos controle: Ah, ele é confuso. Ah, ele está tenso. Ah, ele tem medo. Ah, ele é maluco. Ah, ele isso. Ah, ele aquilo. Ah, ele não teve amor. A gente vai inventando mentiras sinceras igual Cazuza porque a gente aprendeu que amor às vezes dói e às vezes tudo suporta.

É poeta demais errar e sofrer por alguém que a gente amou por anos. A dor não é bonita e a perda, muitas vezes, é tragédia. Porque a gente sabe que encontros são raros no mundo e, muitas vezes curtos. A gente sabe que o desencontro é sempre eterno e arrastado… e dói.

As mentiras que contamos a nos mesmos quando estamos vivendo na corda fina e bamba são transparentes demais e, mesmo assim, continuamos - não por empatia nem por porra nenhuma - é que a gente acha que é bonito demais se imaginar por aí sendo tudo o que uma pessoa mais precisa ou, simplesmente, fazendo sentido para a vida de alguém.

O que a gente aprende só depois da queda é que talvez a gente faça sentido para alguém. Talvez em outro garoto. Talvez em outro planeta. Talvez em outra estrela perdida no céu. Talvez.

Talvez só pra te dizer que ainda podem haver encontros no fim.




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