Fazia meses que eu entrava no seu perfil, mas não tinha coragem de te chamar pra conversar. Você apareceu para mim num dia que eu chorava mais do que o normal. A dor ainda era latente. E você surgiu como recomendação. Pensando bem aqui, eu nunca entendi porque você me foi sugerido, mas eu fiquei com aquilo na cabeça. Na verdade, eu fiquei com uma foto específica na cabeça: uma que você está sorrindo sem olhar pra câmera. Quando me dei por mim, a vergonha tinha passado, eu tava de férias e no tempo ocioso fiz promessas para mim mesma: não esconder vontades. Foi assim que decidi ir atrás de você. Você puxou assunto e três dias depois eu te encontrei. Você me fez rir das coisas que eu já gostava e eu descobri que você também gostava. Era engraçado te ouvir falar em outra língua. Você não entendia, mas eu achava engraçado. Porque você é assim, de arrancar o riso. Percebi isso nas três vezes que te encontrei. Na forma que você se encaixou em mim quando eu disse que não dormia de conchinha. No jeito que você continuou a segurar a minha mão enquanto dormia. Era lindo ouvir tua respiração no meu ouvido e imaginar um monte de coisa fora do seu quarto. Eu ficava acordada e era tão bom sentir o mundo mudando debaixo dos pés, que até me dava vontade de sair da cama e passear por aí apostando todas as minhas fichas em você. A mesma ficha que caiu ontem. Eu sei, a vida passa e a gente passa de fase. Quando se ver não é mais uma necessidade, mas apenas uma iminência, e as coisas terminam. Minto, as coisas nunca terminam, simplesmente se abandonam. Eu tomo mais um café. Eu parei de chorar em janeiro. Mas voltei hoje. Peguei aqueles meus CDs velhos de músicas melosas. Eu parei de ouvir Radiohead no ano passado. “Fake Plastic Trees” me faz chorar com uma menininha que perdeu seu urso de pelúcia. Mas voltei hoje. Até meus vícios que me deixam tristes ou drogada voltaram, e nada do teu rosto. Eu não quis te dizer muitas coisas porque me conheço. Sei que vai doer, como na música. Não-deixe-ninguém-machucar-teu-coração. Essa foi a única coisa que eu te disse, porque é verdade. Ninguém-deveria-te-machucar porque você é dessas pessoas raras no mundo. Com o intuito de ter uma visão doce sobre as coisas, mesmo as pessoas não sendo com você. Tem esse dom de fazer as pessoas se sentirem confortáveis ao assistir um vídeo clássico dos anos 2000 ou de comer burritos às duas da manhã na sua cama. Você tem disso, essa coisa de ser a pessoa certa no momento certo, mas não era uma hora tão certa assim. Sempre andei me escondendo das coisas. Tentando me livrar da dor da vida e das coisas que não deram certo para mim. Até que você, dormindo, me pediu um beijo e disse aquelas duas palavras que todo ser humano na terra quer ouvir. Estremeceu cada pedacinho do meu corpo, como se te conhecesse há anos e nenhum passado por trás existisse. Eu sei que você tava dormindo, e sei que você não disse de verdade, mas aquilo me fez ter uma outra visão das coisas e de como as coisas deveriam ser a partir dali. Sempre andei me escondendo de tudo, mas naquela noite eu decidi que não deveria mais deixar pra lá o que eu sinto ou o que deve ser deixado para lá. Eu te chamei esses dias pra te contar isso, mas a verdade é que mesmo decidindo não deixar as coisas para lá, eu resolvi deixar. Porque eu sei que daqui há quatro dias você vai pegar a estrada e talvez eu nunca mais te veja de novo. Tu precisa pegar esse caminho e conhecer a vida que te aguarda. Espero que um dia tu saiba que teu jeito, leve e engraçado, me acompanhou nessas noites de insônia e me fez sorrir. E dormir bem outra vez.
Você me fez sorrir.
Você me fez sorrir.
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