Desolada no chão da sala, com as lembranças vindo à tona. É fato que, quando nossa cabeça fica desocupada, a gente só pensa no que deveria ter feito. No que poderia ter mudado. Era de se esperar, o dia estava mais do que propicio: escuro, chuvoso e frio. Eu desejava não ter isso, não digo memória porque deve ser horrível não lembrar de nada, mas eu desejava não sofrer tanto por lembrar. É aquela dorzinha tão doída, pior que cortar a mão com uma folha de papel que tanto custa parar de arder. E sabe aqueles pensamentos que tem vozes? Sim, meus pensamentos falam. Não sabia? Aos poucos, eles derramam pelos meus olhos vestígios da nossa breve felicidade. O carpete tentava aquecer minhas dúvidas. Pobrezinho, não conhece nada mesmo. Queria te trazer de volta, acredita? Mas eu me lembrei que entre nós o silêncio e a dor eram maiores do que os dias de chuva que gostavamos de admirar. Maiores do que o querer fazer sem impedir o querer deixar tentar. Por que fomos pra tão longe, se não precisamos nos perder? Já tinhamos o encontro. Doce por sinal. É normal sentir falta. Amar. Chorar. Por que ser diferente de todo mundo? Por que não querer sofrer de vez em quando? A verdade é que a gente esconde de nós mesmos. Dói, mas e daí? Quem já não sofreu um dia sequer? As vezes eu penso que queria mais do que explicações. Mais do que um simples: Eu não amo mais você. Eu penso que queria carater.Companhia. Matéria-prima. Esperava ouvir a tua voz me trazer cor. Não queria te dominar. Tinha que ser você. Você, não eles. Eles queriam sua ingenuidade, sua fragilidade. Mas eu entendo. Agora tudo fica mais claro. O encontro havia se perdido. Era azedo. O carpete começa a irritar minha pele do mesmo jeito que você saia de mim. Do mesmo jeito que não suportava mais ficar do seu lado. Eu caio em contradição, não queria te ver partir. Não queria que você mudasse. Nem que sumisse. Eu só esperava encontrar, mais uma vez, a tua essencia que se perdeu ao encontrar os olhos deles.
CONVERSATION
Sinto que fui tomada pelo tempo. As pessoas vão vivendo suas vidas e eu vou ficando pra trás. -Porra Ana, para de ser dramática. -Realidade não é drama. Todo mundo se completando. Reciprocidade, momentos, felicidade e incertezas. E eu aqui, observando tudo. Tudo e muito sem ser sufocado. Cansei de ser expectadora, quero ter. Ter alguém. Ter você. Ter eu. Ter e ser vivência.
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Que tal viver? É muito simples: a vida passa rápido demais. E aos poucos, tudo se perde. Escorrendo aos litros. Cada um com a sua sina, enquanto eu fico aqui, rodando minhas chaves e vendo se o mundo gira ou é sou eu que faço ele girar.
Aquelas tardes nunca foram as mesmas. Talvez porque antes mesmo de serem elas já haviam deixado de existir. Aquela torneira enferrujada e as gotas d’água que caiam harmonicamente não me deixavam concentrar na sua respiração que eu tanto queria acompanhar. O azulejo azul celeste e o eco que os nossos corações queriam preencher acabaram com os gestos estúpidos que fazia. A barba por fazer e aquela roupa surrada lembrava os dias que eu não havia presenciado ao seu lado. Se aquelas lágrimas tivessem escorrido, as coisas poderiam não ser as mesmas. Certamente, eu teria dito todos os meus escândalos presos em tumultuados dias de verão. Mas eu acabara de interromper o começo de uma dor maior do que eu mesmo possa acreditar. Preferi escapar, deixando um ponto na mão para trás, um botão aberto e uma garrafa de água vazia. O que é bom é fazer sobrar alguma coisa. Nem que for solidão. Evitar dizer que mora na minha cabeça dezembros e folhas de cadernos a rasurar o imprevisível fato de você não ser mais quem era. É bom mudar também. É bom se tornar um estranho. Mas o que é bom mesmo é ver que as coisas foram pra nunca mais voltar. Que, antes de abraçar-te amor, eu vi que dentro desses teus braços o vazio era sua companhia. Dia após dia sem você. Desiste. Tempo nenhum volta atrás. A torneira continuará a vazar. Os olhos irão continuar a secar. E o dia voltará a fechar.
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Porque perdeu a memória quando menos se esperava esquecer E nós queríamos que lembranças durassem os tempos de tempos. Mas o que durou foi a inexistência de fatos E o que se perdeu voi a vivência de bons tempos.
Eu olho pra você e vejo toda a timidez de lábios sem palavras, caindo em contradição, borrando sua guia na própria essência de ser esquecido e tendo o dia com mais segredos. Pensei que poderia escolher. Você precisava de alguém que costurasse tuas incertezas mas infelizmente eu não tinha a linha do acaso. Eu testava sua graça para ver se encontrava retornos em ruas sem saídas. O foda é saber se despreender. Ao invés disso, eu fico rodando em torno de labirintos procurando transbordar sentindos que não dão em lugar nenhum. Mas é isso mesmo. EU quero mais encontro. Mais filme água com açúcar de sessão da tarde. Quero extase ao ver o sol vermelho e amarelo. Mais mãos entrelaçadas, abraços arrepiantes e calafrios à queima roupa. Quero concretizar laços; memorizar estações. Diga que se arrepende. Queira estar comigo. Quero mesmo é te quebrar os olhos. Te fazer parar de se destruir... Mas não devo. Já fiz. Não faço mais. Enquanto essas lágrimas vão escorrendo, vejo você se perder na rotina. Quem vai te reerguer? Implore a felicidade que eu lhe sopro teu desprezo. Se entregue que eu não vou te querer. Eu só quero olhar pra você, olhar bem nesses teus olhos queimados de vaidade e dizer: - Pobre benzinho, sinta sozinho o seu mal!
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É um silêncio enorme. Sentada aqui, com aquela perfeição de cor nos olhos e salto alto no chão. Quem me dera houvesse dia de tirar o peso de mim. Levanto-me para olhar o meu reflexo sobre uma camada de falsidade e outra de brilho labial. Cabelo bem preso e um toque adocicado do perfume que costumava passar. Olha só onde eu fui parar. Boa tarde mais uma vez. A simpatia e os gestos bem pensados nunca fizeram parte da rotina que eu tive que sair. Começando a escrever novos passos, pequenos roteiros... E a dor maior é entender que tempos bons não voltam mais.
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