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Antes de me contratar, meu chefe havia me ligado para saber quem eu era. A última coisa que ele me perguntou, depois de mil coisas desde comida preferida até poeta favorito, qual era a minha paixão. Eu lhe respondi que não tinha paixão alguma, que eu era meu próprio par. Paixões não existiam. Depois de longos cinco meses, eu parei pra me perguntar se eu havia mudado em alguma coisa. Pela primeira vez, eu fiz o caminho de volta para casa sem dormir. Pra falar a verdade, acho que esse ano todo dormi mais nos "transportes públicos" do que na minha própria cama. Chovia demais. Minha primeira paixão, desde daquele 19 de Dezembro. Tirei os fones de ouvido: outra paixão, que me faz viajar sem sair do lugar. Cansaço também definiria minha paixão, a de acordar cedo, de viver a vida, tranquilamente. De rir das coisas mínimas, de rir o tempo todo, de fazer os outros rirem com alguma piada sem graça. De rir. Quer paixão maior que esta? Tá bom, a de desdenhar da sorte e do acaso. De não fazer expectativas. De viver num mundo de amores ilusórios e de destinos desviados. Paixão por poesia, ideias, palavras, ideais e sentimentos. Paixão por todos que passam e sorriem pra mim. Para com que chora. Paixão de sempre ouvir, de sempre estar aqui. Paixão pelo tempo. Por calculadoras, ponteiros e bolinhas. Paixão por mãos. Por lembranças. Paixão pelos meus 18 anos. Paixão pela paixão. Acho que aprendi o que era isso. Ou o que é. Paixão pelo incurável, pelo amor, por você. Mais do que isso, paixão por estar aqui. Mas fico na dúvida se eu realmente sou apaixonada por aquilo que me cerca ou se tento apenas esconder aquilo que eu mais desejo, mas que tenho receio de mostrar. Apenas, apaixonada. Continuo sendo meu próprio par, mas apaixonada por todos os outros pares

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