A ideia central não é dizer que eu fui uma criança traumatizada pelas coisas que aconteceram na minha infância nem que eu sofri bullying. Se fosse por todas elas e pelas coisas que ainda acontecem, certamente eu já teria até me matado. Mas não. O que eu queria falar aqui é algo que tá me matando e sempre foi assim: o sobrepeso. Eu nasci gordinha, fui gordinha na infancia, fui gordinha na pré e na adolescencia e sou agora. Quando eu era bebê, nem tanto. Minha mãe vivia me exibindo para os outros nos melhores modelitos, me empetecava, me embelazava. Aos poucos, fui crescendo. Eu nunca entendi ao certo porque essa coisa de "você tem que ser magra para ser bonita". Quando eu fui pro ensino fundamental, as outras meninas da escola viviam tirando sarro de mim "A ana é mó gordinha". Eu não ligava muito, eu nunca me liguei na verdade. O que é ser gordo? Só porque eu não usava o mesmo número de roupa que o delas eu era considerada a gordinha da sala? Daí, eu me mudei de escola. Fui fazer o Colegial numa escola particular. Nossa, só beldades. Modelos. Ou sei lá o quê. Eram roupas de marca, eram maquiagens caras e saltos altos. Mulheres. E eu só tinha 14 anos. Meu primeiro dia de aula, a minha mãe olhou nos meus olhos e disse "Eu não vou entrar com você porque você é gorda". Eu já entrei na escola chorando, pra variar. Os outros tiraram sarro achando que era por saudade da minha mãe. Mas não. Na verdade, eu já estava acostumada a ouvir isso. Quando a gente ia comprar roupa, eu nunca pedia nenhuma, ela sempre me empurrava a que ela queria que eu usasse. Tudo bem, isso não me importava. O que doía, de verdade, era ela me batendo, me xingando na frente de todo mundo, o fato de uma calça 38 nunca ter entrado na minha bunda. Era inadimissivel para ela. Então, chegar na escola nova e ser de novo a gordinha da turma não era tão ruim assim. Eu ia em festas, baladinhas ou sei lá o que, e todas estavam lindas e cheias de charme, e eu estava sempre ali, de calça jeans e tênis. Mas eu não ligava. Eu realmente me sentia bem. O bom é que eu tive amigos que gostavam de mim mesmo com uns quilinhos a mais. Os meninos, nem tanto né? Corriam atrás sempre das loiras peitudas ou morenas bundudas. Ah, mas nessa época eu não era tão ligada a essas coisas. Quando eu me formei, no terceiro colegial, eu estava realmente linda (segundo essas mesmas pessoas que me entitulavam de gordinha da turma). Eu tinha feito loucuras, tomava mil remédios, desmaiava, academia e sei lá mais quantas coisas eu fiz pra emagrecer. E não é que deu certo? Mas eu tava acabada. Depois, enfim, entrei na faculdade. Lá nunca, eu disse NUNCA, ninguém tirou sarro da minha gordice. Das minhas bobeiras, sempre. Agora por eu pesar mais que eles, jamais. Eu me sinto bem lá. Até hoje é assim. O pessoal não tenta me agradar. Eles me falam o que eu sou. Olham dentro de mim, sabe? Parece não ter tanta importância assim, mas olha... faz um bem danado. É bom saber que a gente é alguém por dentro ao invés de apenas algo por fora. Minha mãe ainda não anda de mãos dadas comigo na rua, por vergonha. Minha família inteira se lembra de mim como a ovelha-negra-gordinha. Mas o que nunca ninguém parou pra reparar é que eu sempre fui assim. Não é porque eu como demais ou que não faço nenhum exercício. Eu sou assim. Isso é ruim? Eu não to com uma obesidade morbida nem meu IMC tá acima da média. E só por isso eu não vou ser alguém? Só por isso as coisas que eu vou fazer não serão realizadas com êxito? Dói saber que pra que essas perguntas sejam respondidas, eu vou precisar mudar pra agradar as pessoas.
E eu realmente preciso disso?
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Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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