Sobre o querer - e o não ter

Eu tento disfarçar as minhas frustrações, como se eu conseguisse ser maior do que toda essa angústia que habita no meu peito. Ando interiormente presa, com receio das coisas não darem certo. Na verdade, o meu maior medo é que as coisas nunca mudem. Que eu fique estagnada nessa dor e nessa solidão que ninguém dá jeito.
Eu tento esconder minhas vontades, como se eu pudesse controlar as fantasias que moram no meu querer. Carrego um fardo que não queria alimentar, com aquele desejo de deixar tudo para trás e, ao mesmo tempo, com vontade de ficar.
As coisas não andam dando certo na minha vida. São tantos problemas, amores mal-curados, danças sem par, vontades de ir além e não conseguir me desprender do chão e tantas outras coisas que detonam a minha paz.
Escuto das pessoas que tenho tudo em minhas mãos, que não há motivos para choros e pesares. Por fora, admito, é assim. Eu sempre soube que tenho tudo e todos ao meu redor. Mas, aqui dentro, no vazio dos meus braços, no andar de todos os meus passos, eu não tenho nada. Eu nunca consigo ter nada. Queria aprender a fazer com que as pessoas ficassem mais. Que as paixões se prolongassem. Que a escrita durasse. Que as mágoas fossem curadas. Que as dores fossem apagadas. Mas, não. Nesses segundos que parecem não ter fim, eu ainda não tenho nada. Eu ainda não tenho ninguém. E eu sei que, mesmo não procurando, eu sinto falta. Sinto falta das coisas que perdi. Sinto falta dos momentos bons que não tive. Sinto falta das sensações que esqueci. Queria aprender a não saber dessas coisas. Queria esquecer as dores. Queria desaprender a falar.

Queria,
agora,
agorinha mesmo,
desaparecer por alguns instantes.

(e não voltar tão cedo)

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