sobre a estranha visita que cisma em habitar em mim



Ela voltou. Foram dias de distância. Mais dias do que imaginei que ela conseguiria ficar longe de mim. É uma coisa muito estranha de explicar. Não consigo entender porque quando tudo está resolvido dentro do coração, ela cisma em voltar e revirar você de ponta cabeça. Eu estava na direção certa. Meus sonhos tinham voltado. Minha esperança na vida tinha aparecido e trazido consigo novas oportunidades. É difícil fazer da vida uma aposta certa como se eu não tivesse outra escolha. Eu quero fugir dessa maré de lembranças. Dessa puta-coisa-filha-da-mãe-chamada-meu-fracasso. Eu fracassei. E eu não sei lidar com o fato. E ela cisma em voltar. Já faz algum tempo que ela vem e eu não sei mais o que fazer. Eu não consigo ter forças pra ouvir a minha terapeuta. Não tenho vontade de tomar os remédios. São milhões de desajustes que borbulham dentro do meu peito quando ela retorna. Um tremor que me assusta e me atormenta. Sensações fazem coro na minha cabeça, e pesam e devastam tudo o que passa pela minha frente, me deixando sem saída a não ser ela. As preocupações batem na minha porta em busca de respostas que eu não tenho. Reviro o meu baú de planos e de informações, e mesmo assim não encontro nada que justifique meu caos interno, a não ser essa visita que sempre volta sem ser chamada. É inquietante viver com essa visita que não anuncia hora nem dia. Agora, momentos de paz e tranquilidade são quase raridade (ok, confesso que só fico em paz entorno daquele corpo quentinho que eu tanto prezo pra não se afastar). E o medo me sufoca. Os devaneios se acumulam. E as dúvidas não me deixam dormir sem chorar por uma eternidade. Sinto uma saudade estranha, como uma necessidade de me ter de volta. Sinto-me presa nessa teia maligna. Sinto desespero por estar em um labirinto escuro, sem ninguém para me pegar no colo e dizer fica calma, isso vai passar. Calma, ela vai embora. Ela não vai embora. Ela vai e volta. Ela muda de cara, de nome, de força. Ela cresce e se transforma. Mas ela nunca me deixa. Eu tento, meu deus, como eu tento. E eu fico juntando meus pedacinhos, que estão cansados dessa luta diária e sem fim, e procuro como continuar a caminhada. Eu sei que vai passar, que um dia ela vai embora, afinal, não é isso que dizem que tudo nessa vida passa?

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