Os homens, tomados por sua masculinidade tóxica, criam uma complexa síndrome de don juanismo, a qual não apenas destrói suas parceiras, como a si mesmos. E como eu sei disso?
Ora, eu também conheci o famoso homão da porra.
Inclusive, ele leva esse título até hoje pelo que pude reparar. E a vestimenta faz jus ao que ele prega. Sabe de cor e salteado todos os poemas do Neruda. Conhece todos os versos de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e músicas chicletes que toda guria gosta de ouvir. Ok, é o famoso fã de Los Hermanos que aprendeu a tocar Último Romance no violão pra conquistar a(s) mulher(es) amada(s). Quem nunca fez algo parecido pra chamar a atenção, não é mesmo?
Eu nunca, até porque só aprendi uma única música no teclado.
Ah! E como poderia me esquecer... o cara é roots. Usa umas camisetas de banda, defende o socialismo e a luta de classes com unhas e dentes, escreve uns textão de Karl Marx (e ainda diz que é dele mesmo) e fuma um cachimbo quando bate a bad.
Ora, temos essa máxima também: é legal se passar por fracassado e implorar atenção. Era tido como o aluno mais chato da escola, não lia um livro se quer a não ser os de autoajuda. Hoje, coleciona livros que nunca leu de autores que nem sabe de onde vieram. Gosto de dizer que é um "João vai com os Outros", porque não pode ver ninguém ouvindo uma música ou lendo um livro que já está lá no dia seguinte torrando o cartão de crédito da sua mãe pra comprar tudo do autor.
Que fase!
Também não podemos nos esquecer que todo homão da porra é bom de cozinha. Nossa, que maravilha! O cara faz o melhor arroz com feijão da região e, pronto: já merece o prêmio Michelin. Pesquisou tudo no Ana Maria Brogui e acha que tá abalando. Quem nunca fez um miojo e colocou uns pedaços de frango/carne pra dar um ar sofisticado ao prato?
Eu nunca, detesto miojo.
Mais pertinente do que nunca: “o poeta incompreendido da nossa geração”. Escreve poesias a sua musa inspiradora, óh imaculada, que ao olhar no fundo dos teus olhos consegue ver todo o seu futuro e destino. Meio Crepúsculo isso, não? Aquela parada de imprinting ou sei lá que porra que é essa.
Aí o cara faz o que? É um “macho chato” (amo esse termo!). Cresceu numa família onde teve tudo o que queria, estudou nos melhores colégios, teve as melhores roupas, viajou para os melhores lugares, comeu nos melhores restaurantes, sem pagar UM CENTAVO do próprio bolso e ainda se diz que é um fracasso exemplar, alá Walter Benjamin?
Eu realmente não entendo.
Aí o homão da porra sai da barra da saia da família. Cadê toda essa masculinidade na hora de trocar a porra da tomada? Na hora de fazer o pf? Na hora de limpar as cuecas borradas? Ué, pera lá... Não é isso que ele diz no facebook? Que é o cara dos sonhos de toda menina?
Mas gente... será que NINGUÉM nesse mundo enxerga que as pessoas são assim para atrair a confiança de alguém? A gente ilude o outro com aquilo que achamos que temos de melhor. Mas a gente, muitas vezes, não somos isso. A gente não tem nada de “OHHHH” para oferecer a não ser o que somos. Por que bajular pessoas que não fazem o que pregam? Por que bajular homens que fazem qualquer coisinha achando que eles são O HOMÃO DA PORRA?
Nessa premissa, um homão da porra é o que? Um personagem que desmorona aos poucos e se reconstrói; um ser humano frustrado, e não um príncipe literário às avessas; um protagonista de um filme que representa o estudo do masculinidades tóxicas no homem moderno.
Por que a gente romantiza um ser desse? Queremos o que? Uma geração sequelada de homem que ainda não aprendeu a pagar a própria conta no bar sem pedir dinheiro para a sua mãe?
Como diria o poeta, “deus me dibre” conhecer um homão da porra de novo.
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