Eu o via correndo de um lado para o outro, com seus cabelos enrolados todo bagunçado e com o óculos que ficava se exibindo só porque eu dizia que era o melhor que já havia comprado. Era inevitável, não conseguia parar de olhá-lo, quando deixava sua blusa em minhas mãos para que pudesse correr sem molhá-la com suor. A sua grosseria era maior que ele mesmo. Teus gestos com timidez, quando me levava nos seus pés para me dar a linda sensação de como era andar sem por os pés no chão. Fechava-se em seus pensamentos e era difícil deixar alguém se aproximar. Teu lado machista, teus pulsos enrolados com aquele fio encerado colorido que eu tanto tirava e fingia esquecer devolver. As milhares de ajudas em contas e a cara de pequeno prodígio que eu me contentava quando apenas apagava meus erros. Os telefonemas sem porquês e sem graça, quando ficava sem falar nada e eu tentava adivinhar se estava bem ou se queria apenas conversar. As madrugadas vazias e a tua imagem me fazendo rir ao relembrar a raiva que sentíamos um do outro, ou por ficar com os pulsos entre o queixo olhando para mim só para ver o quanto conseguia me fazer ficar vermelha. Os mesmos sonhos e o desejo de se mudar para a mesma rua (pobre imaturidade). Sentara naquele vaso que fizera de banco e me levou para perto de sua respiração como nunca havia feito. Balbuciou docemente o carinho que sentia por mim que fez com que minhas bochechas ficassem ainda mais quentes pela vergonha do estado de estarmos sós. Eu preciso ir embora. Eu vou com você. Mas a minha mãe, minha mãe vai comigo. Fica aqui, preciso te dizer algo. Não posso mesmo, preciso ir. Os portões azuis se abriram para que pudéssemos sair. Suas mãos levemente frias passaram em meus cabelos e ele selou com teus lábios a doçura que eu tanto espera sentir. Por favor, fica aqui. Desculpa, já estão ali - apontando para o carro onde me esperavam - e eu tenho que ir. Suas palavras me faltaram durante uma semana, sem ligações, sem aparições, sem ele. Meu destino esperou o dele, mas ele não apareceu. Voltei atrás com dezembro e nunca mais nos falamos. Três meses se passaram e ele, sem me pronunciar nada apesar de encotra-lo todos os dias, pela rotina que nos obriagara a ficarmos juntos, se pegou sentando na minha frente pela primeira vez. Se eu te dissesse que uma pessoa se arrepende do tempo que deixou escapar, o que diria? - perguntei sem rodeios. Eu diria que é tarde demais. Mas e se eu disse que ela está prestes a deixar tudo para ouvir o que queriam dizer para ela? Esquece, eu fiz muito bem em não ter dito nada. Um ano se passou desde essa última vez, seus segredos o consumiam e se calava ainda mais, até o dia da nossa formatura, que ele me abraçou - como nunca fizera - para cumprimentar-nos. Você está lindo, mas eu ainda prefiro teus cachinhos. Dançávamos um ao lado do outro. Era maior do que eu mesmo possa imaginar, mas meus olhos não desviavam dos olhos teus. Ir embora, mais uma vez. De novo. Pois é, eu sempre estou fugindo, não é mesmo? Boa sorte na sua vida, que tenhamos toda a felicidade que merecemos. Obrigada. O abracei fortemente: Você não faz idéia do quanto eu vou sentir falta de acordar de manhã e ir ao encontro do seu sorriso. Boa noite. Boa noite. Antes de eu ir embora, saiba que... Eu também Ana, eu também.
Ponto final
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