Não disse que iriamos nos ver novamente.
Engraçado, o clima continua o mesmo.
- Pois bem. Mas ele já não tem lembranças como outrora obtinha. Agora, vejo as gotas caírem e o que vem é uma sensação de alívio. Alívio de poder observar a chuva e não sentir absolutamente nenhum sofrimento ou algum sentimento. Agora, consigo apenas ouvir o barulho que faz lá fora e sentir o vento gelado me trazer o silêncio...
Silêncio seria solidão ?
- Não. Silêncio é bom. Traz-me à tona a vida que tanto desejo viver lá fora, mas que por medo ou por dúvida eu deixo de torná-la real.
Ultimamente você está estranha. Está distante, já não consigo te fazer sorrir.
- Eu sou assim. Não costumo dar valor para as pessoas assim que as perco, mas sim percebo o quanto são humanas enquanto convivem comigo. E não adianta, que para você nunca mais irá sair um misero sorriso, não consigo ser falsa a tão ponto de esquecer todas as coisas que ouvi no passado e levar a vida na tangente, como se nada tivesse me ferido, como se nada tivesse sido assustador.
A falsidade está nos olhos de quem vê. Em momento algum pensei em te ferir.
- Deixa isso para lá, não quero falar com você. Não desejo ver ou escutar o que tem pra me dizer. Já aturei demais a sua falta de personalidade, a falta de discernimento que havia na sua conduta e não sou obrigada aceitar as suas mazelas... saturou-se!
Um dia, você vai ver o quanto sofro em perceber que não lembras mais de mim e que pensas que não lembro do momento, junto aquele banco, diante aquelas rosas. Você não entenderia os meus motivos.
- Não me venha com pezares, é tarde demais. Esperei sentada naquele banco por mais de um mês. As semanas passavam, a cada dia que virava eu desejava ver sua silhueta se aproximar de mim mas a única coisa que se aproximava era a saudade. Era a ausência. Carência. Sol. Estava errado achando que eu daria uma vida toda esperando por você.
Eu estive fora e você não entenderia se eu dissesse que havia uma vida lá fora que me esperava. Uma vida que eu sempre sonhei em ter, mas que nunca tinha tido oportunidade de vive-la mas que, ao ficar sentado nesse banco, quando tivemos a primeira conversa percebi que tinha o direito de fazer o que queria, de conhecer pessoas, de viver experiências novas, algo que você jamais entenderia.
- Suas palavras já não me afetam e não tenho paciência de entendê-las. O que eu quero agora é ficar aqui, nesse banco e ver as novas rosas que estão a nascer. Nada, nada irá me retirar dessa imensidão, dessa calma que encontrei sem você aqui. E por favor, vá embora. Eu quero ver você me dando as costas. Eu quero ver você coçar a cabeça sem me entender. Vai, eu quero me despedir de você. Eu quero que você chore. Eu desejo que você lembre. Eu quero que você faça perguntas a si mesmo. Eu quero que você se culpe. Que se sinta sozinho. Que ninguém lhe de valor. E eu quero, com a maior sinceridade, que você volte para a vida que descobriu! Lá, você irá perceber o quão grande são as pessoas, mas não pelo que elas possuem dentro delas, mas sim pela conduta, pelo poder de interagir no modo de uma pessoa pensar. De se bitolar. De ser quem você não é.
Está bem, estou indo. Mas eu queria continuar com a sua amizade. Você ainda continua sendo muito esp...
- Não quero saber. Não preciso de você. Não preciso do seu sentimento de culpa. Não preciso das suas palavras.
... Até além, pequena.
-Esqueça, não vou voltar a te ver. Até nunca mais.
Definitivo.
Eu senti sua falta. (ele queria ter dito)
Foto: Cícero Lima
CONVERSATION