Olhando aqui - pra tudo aquilo que deixamos de viver, pra todos os dias desviados e horas atrasadas - pra você parado bem na minha frente, da mesma maneira que te vi pela segunda vez. Com os braços balançando involuntariamente, com um sorriso na cara e as sobrancelhas dobradas do tipo "será que ela me reconhece?". Como não lembrar, não reconhecer e não sorrir ao te ver de novo? É como se eu deixasse tudo pra trás, tudo o que me fez ser assim hoje. Toda essa coisa que tanto dizíamos ser amor. De tudo isso e mais um pouco. Por reparar que meus pés se levantam lentamente quando fico timida ou como coço a nuca quando estou nervosa. Por reparar na minha cara de choro e eu dizer: não tenho nada, é só um cisco. De trocar palavras e rir demais depois disso. Por termos vivido ao invés de sonhado. Mantivemos esse tempo com os pés no chão. E só de te ver, assim, tão você, me veio esse filme todo na cabeça. Eu não podia com isso. Mas me fez voltar ao seu aniversário, a surpresa e as suas lágrimas de felicidade. Parece que foi agora, agorinha. Você sorria tão docemente que eu percebi que a sorte soube sim ganhar para nós. Te ver e o coração não acelerar foi estranho, mas de alguma forma ele se acalmou. Entendeu que essas coisas, essas coisas como frio na espinha, pernas balançando, bochechas ficando vermelhas e de corpo estremecido, fazem parte da lembrança. Nossa lembrança e de tudo o que veio depois daquele dezembro chuvoso. Entendeu que agora, apesar de sempre restar um pouquinho de esperança, tempos bons não voltam mais. A única coisa que sobra é essa alegria de compartilhar mesmo que de longe, o meu riso com o teu.
Quem sou eu
Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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