Querida Lu,
É estranho pensar que essa viagem vai durar muito mais tempo do que eu pensei que duraria. Continuei a desenhar todos os pinheiros, do jeito que me ensinou. Usei cor por cor, colorindo um dia de cada vez. Dormi inúmeras noites no sofá, me negando a ir pra cama pra não pensar em besteiras. Lembrei dos doces e salgados que fazia tão bem e que hoje ninguém consegue fazer igual. O meu aniversário passou e eu guardei as moedas, naquele pote antigo que tirei da sua casa. Esses dias, parei naquele ponto de onibus do Jaçanã com um amigo e me lembrei do prato com brigadeiro que deixei cair no chão. Ai que saudade boa que me bateu. As coisas continuam tumultuadas. Os pais, avós e tios continuam os mesmos: nunca se entendem mas ainda assim se amam. Sinto sua falta cada vez que abro a janela da minha nova sala, fico olhando pra essa imensidão que não faz você voltar. Sonho com isso como se fosse realidade. E é tão lindo ver que não sofres, que não chama seus filhos a beira da cama e que continua com aquela graça contagiante que sempre me fez esquecer dos pesares lá de casa. Eu fico pensando se estivesse aqui, você continuaria a me entender. Essa coisa, de nunca querer ir além, de sempre ficar esperando as coisas acontecerem na maior boa vontade, sem ter pressa de ir atrás. Esse meu jeito inquieto, a ovelha negra da família a qual todo mundo briga e que nunca consegue ficar com raiva de ninguém. Ai Lu, por que fostes pra tão longe? Era mais fácil não telefonar ou não dar susto na gente em "primeiro de abril". Me pego sentada no portão da sua casa, vejo os meninos brincarem com os outros e eu chorando querendo ir junto. Do seu jardim de inverno dentro da casa, daquele sofá de madeira de um lugar que eu amava dormir. Espero que volte logo ou que, mesmo se não voltar, quando eu estiver pra ir, você esteja para me esperar. Me esperar do jeito doce que sempre esperou. Com as mãos abertas e um beijo na testa que tranqüiliza qualquer vestígio de dor. Eu entendo, agora, o porque sinto sua falta: era com você que eu sabia quem eu era (e tinha a certeza de que alguém também sabia).
amo você pra sempre.

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