Mais uma dose e um coração rejeitado.

- Você está linda, doce. Não sei, acho que é o cabelo preso. Não não, é a blusa vermelha. Ou será que a camiseta com gola ? Pera ai... você usa óculos desde quando?
. Obrigada. Mas eu uso óculos desde os oito anos.
- A para de mentir, vai. Você começou a usar agora.
. Não olha as fotos... Era tão pequena e as crianças sempre riam de mim. Impossível não lembrar!
- Estranho, eu nunca reparei que usava óculos.
. Nunca reparou em nada além do que fosse viavél a sua sobrevivência.
- Como assim ?
. É isso mesmo. Os copos, as conversas em um balcão de esquina, os sábados perdidos, a falta de palavras doces depois da rodoviária. A última vez que ouvi o que você sentia por mim deve ter sido a uns dez anos atrás, quando voltamos pra cá.
- Claro que não meu doce. Eu digo bom dia, digo dorme com Deus, digo tchau.
. E 'eu te amo' ?
- Ah, isso ta incluso nos "bons" dia/tarde/noite que eu te desejo.
. Entendi, então tá.
- Estou brincando. Ué, pra que dizer eu te amo se você já sabe disso?
. É verdade né ? Pra que ficar falando mil vezes isso se a pessoa já sabe mesmo. Bobagem, esquece tudo o que eu disse.
- Ainda bem que aprendeu sem eu ter que te ensinar. Essa é minha garota.
. Pois é...
- Então, vou dormir. Boa noite. Até amanhã.
. Eu queria saber amar você.
- Nossa, isso tudo é pra dizer que te amo ? Tá bom, tá bom, eu te amo.
. Estranho ouvir desse modo, mas tudo bem.
- Ai você me estressa... fui.
. Espera!
- O que foi ?
. Se um dia eu não acordar, entenda que eu já te amei muito. Você era minha inspiração. Você era quem me confortava com os melhores abraços. Você era bom. Você não tinha copos. Não tinha desprezo. Era feito de você. E eu sentia inveja. Mas agora... agora eu entendo. As pessoas mudam. Você mudou, eu mudei. E isso não importa mais. Desculpa te fazer ouvir isso, mas a vida é cheia dessas coisas, não é mesmo ?
- Acabou ? Posso ir dormir ? Quanta ladainha.
. Pode sim, mas depois não se sinta sozinho.
- Tá legal, to indo. Se precisar... ah se precisar eu vou estar dormindo.
. Eu juro que tentei, eu juro que eu quis aprender.
- CHEGA! Até Amanhã Ana Clara.
. Amanhã vai ser tarde demais, pai.

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