Fim de peça

Achou que jamais nos encontraríamos de novo, não é ?
- Não, eu sabia que iriamos nos encontrar. Nossos passos ainda estão nas mesmas ruas, nosso olhar ainda se cruza entre a multidão que nos cerca.
Sabe, há algumas semanas atrás, estava sentindo uma falta absurda do seu cheiro, da sua roupa limpinha, da tua pequena inôcencia e jeito de criança madura. Eu sei, não devia.
- Engraçado, é bom sentir falta das pessoas quando não a valorizamos do nosso lado. É muito fácil sentir saudade de quem sempre esteve ali, esperando ouvir essa grande ignorância.
Hoje, eu tento não sentir sua falta. Eu só precisava vir até aqui falar com você e te apresentar meu novo amor. Precisava ouvir dos lábios teus se concorda com esse novo destino, esse meu novo caminhar.
- Sabe, prazer. Não preciso aprovar nada. Estava muito bem aqui, aliás, deixa eu voltar a assistir essa peça. Daqui um pouco, eu verei uma nova cena: o teu fim. Triste e doloroso. E, eu disse, cuide do seu amor antes que perca-o como perdeu o que em mim habitava.
Ana, espere...
- Perdi a vontade de ver a tal peça, vou por ai, descer aquelas escadas e me entregar a noite. Estou a deriva. Eu estou feliz, eu não vou chorar, eu não quero ouvir-te, eu quero esquecer de mim. Esquecer da vida. A escuridão que de mancinho se aproxima, grita pra eu encontrá-la. Foi um prazer conhecê-la, fofissima.
Desculpa, mas eu ainda a amo.
- Peça desculpas para teu amor.
Ana, ana, ana!
- Por favor, me deixe.
Eu te amo.
- Adeus.
Desculpa por fazer você sofrer.
- [silêncio]
A minha insegurança te afastou de mim, o teu amor me afastou de mim mesmo, fica aqui. Eu preciso de você.
- [risada irônica] Faça bom proveito do teu querer que não te levará até a mim. Estou em paz, me deixe ser feliz.
Tudo bem, eu só queria te ver e te amar como antes.
- Cuide-se. Passar bem.

(Hoje meu querer mudou de direção, que fica vagando entre os becos da minha solidão)

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