Eu estou imersa em sábados tediosos, onde a minha cama é a
melhor escolha para tudo. Fico o dia inteiro de blusa de moletom, olhando para
o teto tentando entender o que eu estou fazendo com a minha vida.
Mas aí, num desses dias, eu deslizei o dedo para o lado e você apareceu. E eu,
fria demais para notar qualquer coisa, percebi que naquele mesmo momento o
encanto veio. O encanto veio justamente em me deixar seduzir com seu jeito meio
lord-atrapalhado e aquele humor autodepreciativo.
Da única vez em que acordei do teu lado, você estava com aquele sorriso
debochado de quem me fez acordar com cara de “foi-bom”. Porra, você se
tornou importante. E eu odeio não poder te ver o tempo inteiro. E foi-se o
tempo que eu me orgulhava em ser solitária.
A minha rotina, por mais badalada que seja, parece uma
doença crônica. Sinto uma saudade oceânica dos sábados normais e românticos.
Das pizzas, nunca mais provei. É a única comida que quanto mais mastigo, mais
vazia me deixa.
Há tempos eu grito pelo diferente. Em vão. Cada dia eu fico
mais afônica. A festa na casa dos amigos dos meus primos é replay dos próximos
sábados. O Happy Hour com o pessoal do trabalho é um dejavú da terça-feira que
você sorriu para mim enquanto tomava um copo de cerveja.
Odeio esse sincronismo entre o esperar por um amor e o viver uma paixonite. Posso correr pra qualquer lado, dar tantas e tantas voltas, pra tentar escapar de esbarrar no seu peito com cheiro elegante de homem engraçado.
A vida ficou no ar e eu fora dela. Sigo caminhando,
aceitando todos os convites, fugindo de mim, numa ida sem volta, sempre com a
impressão de que já passei por aqui. É muito bom querer todas coisas, mas desde
que vi essa tua risada engasgada eu só penso em te querer. Parece exagero, mas
é que você, poxa vida, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que
levantei em volta de mim quando as palavras dor, saudade, ausência, falta e
despedida fizeram de mim uma menina de lata.
Você e seus cabelos escuros e seus sorrisos nada comerciais.
Eu, menina com os pés no chão e sem teto, acabei de decidir que vou levar um
choque térmico, atravessando bruscamente pro lado quente da calçada.
Eu não sei de deveria contar contigo, porque só quem
enfrenta longas esperas sabe como é o inferno por dentro. Mas o gostar é isso. O
cúmulo da saudade de alguém que você só viu uma vez é gostar. Gostar é todas
essas bobagens e muito mais. Gostar é cotidiano. Gostar é humano. Gostar é
instinto. Gostar é necessário. Gostar é normal. Mas gente, afinal, quem foi que
começou que essa história de que gostar de alguém não é uma coisa normal?
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