sobre as coisas que eu não sabia
isso também passa
"Era dezembro, ainda me lembro: o Sol..."
Fez sol naquela quarta-feira, as duas da tarde, enquanto eu corria pra pegar o 249. Fez sol no sábado, um mês depois, no parque da luz. Fez sol naquele sábado. Para ser mais exata, em todos os dias dezenove de dezembro fez sol. Com chuva. Mas não fez sol na segunda-feira de manhã, no dia que todas as minhas coisas estavam amontoadas no quarto, na sala e na cozinha da minha mãe. Aquele dia choveu não só no quintal, mas dentro do meu coração. É como se esse dia, tão cheio de não significados para as pessoas, descrevesse exatamente como foram os últimos dez anos da minha vida. Apesar de bonitos, cheio de tempestade. É incrível se dar conta de tanta coisa que já vivi, embora os quase vinte seis anos sejam tão pouco. Do que perdi. Passou. Mas também do que chegou. E aí entram parenteses porque contarei mais tarde. Por hora, a partir daquele ponto, dia dezenove de dezembro marca o dia que eu renasci. Do abismo que fui, voltei, e consegui encontrar uma única possibilidade de escalar. É engraçado como a gente não percebe o quão no fundo estamos do abismo. Do quão perto do precipício também. E de como não percebemos as milhões de possibilidades que temos de sobrevoar o próprio abismo. Deve ser porque há uma linha muito tênue entre a liberdade e a vontade de querer ficar. Então, recapitulando, dezenove foi, e é, agora, um dia para me lembrar das coisas que eu podia. Que eu posso. Nossa, quem diria que eu conseguiria sobreviver a esse dia sem angústias. Ansiedade. Medo. Receio. Mas passou. O amor pode passar, sim. A saudade também. Nossa, como a saudade pode passar. Custa, mas passa. Esse amor e a saudade só passam quando você percebe toda a dimensão de vida que lhe sobrou. O quão grande pode ser o recomeço. E o quão boas podem ser as perdas. Perder. Como que se perde algo que nunca foi teu? Como que faz para notar que algo, de fato, nunca foi teu? Custa. Custa muito. Custa algumas horas de dor. Um milhão de lágrimas e mais um pouco. Muita, mas muita falta de ar. Dor no peito. Nos ossos. No último fio de cabelo caindo da sua cabeça. Mas a gente nota. A gente finalmente percebe. A gente aprende que nada dura pra sempre quando uma pessoa não quer. Quando não vale mais a pena o toque. Quando o amor pronunciado é tão forçado. Quando tudo é uma chance para uma nova desculpa. Que me desculpe o poeta, mas mentiras sinceras realmente não me interessam. Não me interessava quem era no telefone as duas da manhã. Não me interessava as inúmeras questões de prova que corrigi, mesmo não sendo minhas. Não me interessava o melhor prato de comida que me fazia. Não me interessava os presentes caros, os shows, os carros, o sítio, a privada de dois mil reais que ainda não paguei ou a porra do apartamento de 90m². Não me interessava se tinha ou não dinheiro no mês. Não me interessava nada. Nada além da paz de espírito que procurei sentir naquele colo. Como procurei a paz, meu Deus. A gente procura por todo lugar algo que estava sempre na gente. Porque a gente quer o mais difícil. A reciprocidade. A empatia. O olhar no olho sem cobranças. O simples beijo de boa noite. A mão encostada quando o medo fala mais alto. Difícil, não é? Mas não impossível. Impossível é viver uma vida de tantas idas e vindas e não aprender fazer morada. Não aprender a deixar o outro ser nossa extensão de vida. A gente perde tempo demais achando que podemos mudar a vida de alguém. Tornar as dores do outro mais leves. Tornar o passo menos apertado. Mas a gente não consegue cuidar de alguém sem antes olhar para nós. E a vida te mostra isso quando tudo já estiver perdido. Mas mostra. Mostra que as lembranças vão passar. A dor. As lágrimas. A culpa. O remorso. Tudo nessa vida vai passar. Vai passar, é claro, quando a gente se permitir. A gente precisa saber a hora de deixar o outro ir. Mesmo você ainda sentido raiva de todas aquelas mentiras. Mesmo você tendo vontade de matar o ser humano que mentiu tão descaradamente na sua cara. Porque a gente sabe. A gente sempre sabe. Principalmente quando é a hora de desatar os laços. De ir embora. De finalmente deixar ir. Teu coração nunca mais será o mesmo. Mas ele vai aprender de novo. Vai deixar passar toda tempestade pra trazer, de novo, a mesma vontade de infinito.
Faz sol nessa terça-feira. Daqui a pouco vai começar a chover.
Dezembro também vai passar.
CONVERSATION
todo fim é bom
Esses dias, me dei conta de que passou um ano. Um ano do meu
último fim. Existe um mito de que o fim acaba com todas as possibilidades. De que a
gente vai ficar petrificado com o que poderia ter sido. Do porque ter acabado.
Não preciso nem ressaltar que tal mito foi minha verdade durante algum tempo.
Eu vivia esse mito como quem vive um medo de morrer.
O fim era a morte, na minha cabeça.
Mas quando a gente está logo ali, no comecinho deste fim,
não tomamos conhecimento de que ele, muitas vezes, é libertador. O fim reafirma
que a gente precisa seguir em frente. Nossa, como precisamos seguir em frente.
Mudar de endereço. Matricular-se em algum curso. Conhecer gente nova. Sair para
outros lugares e aprender a decorar outros nomes de ruas e bares e
restaurantes. E nesse começo de mudanças, a gente percebe que precisamos
aprender outras funções para o nosso coração além de permiti-lo apenas sentir.
O fim muda o estado das coisas.
É como se a gente aprendesse na marra alguns ensinamentos.
Algo como: “você precisa entender porque está passando por isso. E por isso eu
sou bom: porque você vai aprender a entender”. Ele vai te ensinar a entender.
Vai te permitir não voltar atrás. Vai te mostrar que é possível cortar laços.
Vai te ensinar que algumas coisas são necessárias, outras não.
O fim de mostra que o seu momento é hoje.
Antes do fim, a gente vive presa ao passado. As amarras do
que vivemos. Também ficamos com o pensamento no amanhã. Que a gente não vai
aguentar se levantar amanhã. Mas, calma. Nós vamos. Porque temos muito o que
viver no aqui e no agora. Clichê, eu sei. Mas hoje tem muita coisa pra se
fazer. Foi assim que eu aprendi a superar o fim: aceitando viver um dia por
vez.
O fim não existe pra nos colocar sobre uma cama e desejar
que a vida termine.
É claro que nos primeiros dias, é difícil. Meu deus, é difícil para um caralho imenso. É uma faca quente entrando frequentemente dentro do seu coração. Mas aí você percebe que é no fim que a vida se inicia. A gente ainda chora muito. A gente não se conforma. A gente vai atrás da dor. A gente fica remoendo pra saber onde foi que erramos. Se é que erramos. Se é que não era o momento errado. Eu sei que dói. Dói demais. Parece que o peito vai explodir.
O fim te permite deixar as coisas para trás.
Você quer deletar as mensagens, fotos, sensações, cheiros,
gostos e tudo. Eu sei, também quis – e fiz. Mas, olha... pra quem está aqui do
outro lado, apagar ajuda muito. Há quem diga que bloquear qualquer lembrança só
desperta ainda mais dor. É você lutando contra você, mas se você está disposto
a lutar contra si próprio, é uma forma de deixar ir. É permitir que seu corpo
descanse um pouco, inclusive do fim. E foi só assim que eu consegui aceitar.
Foi só assim que consegui continuar: deletendo da minha memória toda e qualquer
lembrança, inclusive as boas. Não é um decreto: tem gente que consegue, tem
gente que não. Eu só funciono assim. Foi só assim que consegui me permitir.
O fim costura na gente outras possibilidades – e caminhos.
É como se ele dissesse: “e se você tentar esse caminho
agora?” Porque a gente precisa de outros caminhos. A gente precisa entender o
amor de forma diferente. A gente precisa experimentar, de novo, a sensação de
quando você está gostando de alguém e aquilo faz suas pernas bambearem, o
coração palpitar, o suor virar parte do seu sangue? A vida é sobre os ciclos e sobre o que podemos fazer com
eles e dentro deles.
O fim é um ciclo que precisamos navegar por ele.
Aproveitá-lo. Olhar no olho. Fazer perguntas. Tirar o melhor dele. Refletir sobre tudo até aqui. Mas
sem dor. Porque o fim traz muita coisa também. Autoconsciência de si, do mundo.
Entendimento sobre relações, o seu próprio estar nas relações, como seguir
menos doloroso, até porque sempre vai doer um pouquinho. Quer dizer, nosso
coração sempre fica apertado, machucado e cheio de remendo, já que o tombo foi
feio. A gente até pode seguir com o coração gelado, mas temos que seguir.
Continuar. Correr um pouco dessa estrada que é a reconstrução. Andar e
continuar andando nessa estrada que é olhar-para-si com mais disposição. Até
começarmos a correr a partir do ponto do fim para chegar do outro lado, o
recomeço. É como uma corrida ao contrário. Contra seu próprio fim.
E quando você começa a correr, não existe cansaço para si
mesmo. O fim não permitirá mais isso. Não se trata de fugir. Trata-se de deixar
para traz o lugar que você foi deixado. Trata-se de aprender a olhar para
frente, para os lados, ao redor, ao céu, para si mesmo como o centro do
universo, repetindo: “eu ainda estou aqui”. Porque a gente continua aqui. Mesmo
com tanta coisa ruim. Mesmo a memória sendo traiçoeira e te fazer lembrar
daquele sorriso gostoso ou daquele abraço apertado que era o teu porto-seguro.
Mas isso passa. E outras coisas aparecem.
Depois do fim, você se dá conta.
Sim, eu dei conta. 365 dias e 8760 horas depois, eu dei
conta. Muito mais sozinha do que tinha imaginado. E muito melhor também. Vou
guardar minha modéstia para outras coisas e me permitir o devido orgulho: Fui
foda. Fiz bonito, cresci, corri, conectei, me escutei, descobri, voltei atrás,
entreguei, me esforcei, escolhi – pela primeira vez de verdade, olhei meu
corpo, burlei o tempo, enfrentei o pior, saí de labirintos e, com sincera
labirintite, entrei em outros, amei muito, e por amor quebrei espelhos, ralei
joelhos, inventei novos limites, chorei – valendo. Lavei a alma. Sujei de novo.
E nessa loucura toda: Eu dei conta. “Sozinha”.
E aí, entram aspas. Eu não gosto muito de aspas. Do meio
que. Não é bem isso. Se não é pra dizer a que veio, duro e direto, nem derrama
pro papel. Mas enfim, as aspas. Porque se de um lado foi sim, muito sozinha, de
outro foi muito bem acompanhada. E esse é o ponto dois. Percebi, naquele mesmo
momento silencioso, que em mais uma ironia da vida, ou golpe de sorte, ou
evolução batalhada, justamente nesse ano uma rede de coisas incríveis se
formou ao alcance dos meus abraços. Por todos os lados. De todas as
partes. E eu me permiti começar de novo. Verbalizar a grandeza. Aceitar
as falhas, com amor. Agradecer, sempre que der.
Porque, no fim das contas, o fim é só apenas um recomeço.
CONVERSATION
Sobre a vida
a vida nem sempre vai te dar aquele abraço apertado de mãe, carinho nas costas, dormir no meio da tarde.
às vezes é punição, é calor de meio-dia nos dias mais quentes de São Paulo
ela nem sempre te sorri dizendo que vai ficar tudo bem e que é só um dia, um momento ou um período ruim.
às vezes te faz arder e sentir como se você nunca irá sair dessa.
você até vai sair dessa, mas a vida gosta de enganar um pouco as pessoas.
e quando você sentir um nó fechando sua garganta e lágrimas infinitas escorrendo pelos olhos,
ela não vai te pegar no colo ou te aninhar no peito.
ela vai ser meio cruel.
sem te dar garantia nenhuma de que nenhuma dor é infinita.
mas a gente aprende a tirar força de algum lugar dentro de si mesmo pra continuar seguindo por mais que os dias tenham gosto de remédio.
e sempre vai ter um detalhe - uma mensagem, uma aula que você gosta, um passeio no meio da tarde - que vai te lembrar que a vida pode ser um pouco leve mesmo em meio aos caos do cotiano, à correria das provas, ao desespero da ansiedade.
e quando os tempos melhores vierem, você vai saber que passou por tudo isso justamente porque precisava.
a dor te tornará uma pessoa mais madura.
e você vai perceber que ainda é capaz de vivenciar
e entender, na pele
o que a felicidade pode significar
CONVERSATION
sobre as milhões de versões de você sem nenhuma cor
a mesma foto no meu quarto
a mesma foto que tirei de você naquela viagem que fizemos.
você ainda diz as mesmas coisas para todas elas
o mesmo clichê de que elas são donas dos teus olhos, como dizia que eu era
o mesmo clichê de que encontrou a sua morada, como dizia que eu era.
você ainda vaga pelos mesmos lugares
pelos mesmos autores
pelos mesmos poemas
pelos mesmos artistas
e os eleva para tantos outros olhares que não o meu, como fazia comigo
não dá pra entender como alguém consegue viver uma farsa há tanto tempo
e mesmo assim todo mundo acreditar
eu tenho pena das pessoas que se relacionam com você
assim como eu tive raiva de mim por ter, um dia, te conhecido.
não quero desmerecer nenhum momento vivido com você
acredite, todos eles me fizeram algo bom e ruim ao mesmo tempo
e me transformaram na pessoa que sou hoje
não vou mentir que aprendi muito com você
aprendi a amar, a acreditar, a odiar e a desconfiar
e mesmo passando tanto tempo da minha vida presa às suas cicatrizes dentro do meu coração, tua partida me ensinou que eu poderia ser livre
não só para ser quem eu queria ser
mas para ser quem eu sempre fui
tendo a chance de chorar/sorrir/amar/odiar sem me desmerecer
me permitindo estar onde quero
como
e quando eu quiser.
enquanto você continua preso às suas amarras cotidianas
e a pessoa que nunca irá conseguir ser,
mas sempre será
tanto para você
como para as pessoas a quem se entregar
só mais uma pessoa passível de pena.
CONVERSATION
das coisas que valem a pena
naquela madrugada após o teu aniversário, a gente conversou por muito tempo sobre como a vida às vezes é difícil, mas como também é possível mudá-la. eu chorava, como se esses meses todos que segurei o choro, desabassem de uma só vez; o que fizeram outras pessoas se afastarem de mim não fez você parar de me abraçar e de sussurrar no meu ouvido coisas que não esperava ouvir: sobre o quão boa eu sou. desde que você chegou na minha vida, eu vivencio na prática a minha capacidade infinita de me reconstruir. eu, que já estava quase que meio-caminho-andando-na-aceitação-da-vida, pude entender que tem coisas que foram feitas para nós, outras não. que existem milhões de pessoas no mundo que você nem imagina que existem e que podem existir no seu dia, mas existem.
e você me mostra diariamente que mesmo quando dói muito e a gente pensa que nunca vai encontrar um sorriso tão bonito
ou alguém que se encaixe tão bem no nosso peito e que tenha tamanha capacidade de entender as nossas histórias sem nexo,
a gente sempre encontra.
e
as dores sempre passam.
claro que partidas são sempre árduas e chegam mesmo arrancando pedaços.
os primeiros dias depois do fim são complicados.
uma mistura de saudade, medo, solidão e desesperança,
parece que o mundo inteiro nunca mais vai ter a mesma graça sem aquele bom dia antes tão esperado
acho que você me entende porque também doeu em você.
você viu que dói, mas que quase sempre dá pra seguir, mesmo com dor e saudade.
que
as coisas passam. a gente muda. a cabeça amadurece.
e até a forma de encarar as perdas se transforma depois de alguns amores.
a gente passa a vê-las não como o fim do mundo,
mas como um estágio anterior à construção de um novo momento.
o mais importante, apesar das dores, são as marcas que deixamos um no outro – e é por isso que as relações ainda valem.
é por isso que vale a pena quebrar a cara e machucar a própria alma com a despedida. pelo que fica.
você, por exemplo, me ensinou o bom de ser amada e a gentileza
que o amor ainda pode fazer.
me fez sonhar acordada com as músicas mais bobas do mundo.
mais do que tudo, você me enxergou
de um jeito que eu mesma nunca tinha me enxergado
e me fez ver o quão importante eu sou e o quão feliz eu deveria ser apenas pelo fato de estar aqui, viva; (mesmo que às vezes eu não me sinta assim tão bem com o peso que carrego nas costas)
você me fez mais boba, sim.
mais romântica (ok, nem tanto) e mais otimista.
você me ensina diariamente que dá pra ir até o fim dos dias e voltar à vida.
que eu posso ser do jeito que eu sou
gostar do que eu gosto
até ter esse jeito nervoso e emburrado quando tá com sono ou fome
que eu ainda vou valer a pena.
você me mostrou que o amor ainda vale a pena.
naquela madrugada após o teu aniversário, a gente conversou por muito tempo sobre como a vida às vezes é difícil, mas como também é possível mudá-la. eu chorava, como se esses meses todos que segurei o choro, desabassem de uma só vez; o que fizeram outras pessoas se afastarem de mim não fez você parar de me abraçar e de sussurrar no meu ouvido coisas que não esperava ouvir: sobre o quão boa eu sou. desde que você chegou na minha vida, eu vivencio na prática a minha capacidade infinita de me reconstruir. eu, que já estava quase que meio-caminho-andando-na-aceitação-da-vida, pude entender que tem coisas que foram feitas para nós, outras não. que existem milhões de pessoas no mundo que você nem imagina que existem e que podem existir no seu dia, mas existem.
e você me mostra diariamente que mesmo quando dói muito e a gente pensa que nunca vai encontrar um sorriso tão bonito
ou alguém que se encaixe tão bem no nosso peito e que tenha tamanha capacidade de entender as nossas histórias sem nexo,
a gente sempre encontra.
e
as dores sempre passam.
claro que partidas são sempre árduas e chegam mesmo arrancando pedaços.
os primeiros dias depois do fim são complicados.
uma mistura de saudade, medo, solidão e desesperança,
parece que o mundo inteiro nunca mais vai ter a mesma graça sem aquele bom dia antes tão esperado
acho que você me entende porque também doeu em você.
você viu que dói, mas que quase sempre dá pra seguir, mesmo com dor e saudade.
que
as coisas passam. a gente muda. a cabeça amadurece.
e até a forma de encarar as perdas se transforma depois de alguns amores.
a gente passa a vê-las não como o fim do mundo,
mas como um estágio anterior à construção de um novo momento.
o mais importante, apesar das dores, são as marcas que deixamos um no outro – e é por isso que as relações ainda valem.
é por isso que vale a pena quebrar a cara e machucar a própria alma com a despedida. pelo que fica.
você, por exemplo, me ensinou o bom de ser amada e a gentileza
que o amor ainda pode fazer.
me fez sonhar acordada com as músicas mais bobas do mundo.
mais do que tudo, você me enxergou
de um jeito que eu mesma nunca tinha me enxergado
e me fez ver o quão importante eu sou e o quão feliz eu deveria ser apenas pelo fato de estar aqui, viva; (mesmo que às vezes eu não me sinta assim tão bem com o peso que carrego nas costas)
você me fez mais boba, sim.
mais romântica (ok, nem tanto) e mais otimista.
você me ensina diariamente que dá pra ir até o fim dos dias e voltar à vida.
que eu posso ser do jeito que eu sou
gostar do que eu gosto
até ter esse jeito nervoso e emburrado quando tá com sono ou fome
que eu ainda vou valer a pena.
você me mostrou que o amor ainda vale a pena.
CONVERSATION
sobre voltar à vida;
uma vez me disseram que eu nunca iria conseguir ser feliz se continuasse com o meu jeito.
eu acreditei muito nisso. eu sempre levei muito a sério o que as pessoas diziam sobre e para mim. passei anos da minha vida me julgando, me menosprezando e me autossabotando, achando que eu realmente era alguém que não tinha nada de bom para oferecer. eu acreditei fielmente quando todos se voltaram contra mim por eu ser desse jeito. não sei exatamente qual jeito é esse, mas me culpava. era uma culpa amarga, que eu não sabia porque sentia, mas sentia. e talvez seja por essa mesma culpa que eu sempre aceitei tudo o que era me dado. aceitei ouvir os xingamentos de namorados, os socos no estômago, o olhar não correspondido, a traição a flor da pele, as gritarias constantes, "você precisa mudar", "você estraga tudo", "para de ser assim", os medos do fracasso, as imposições do corpo perfeito, aceitei tudo. baixei a cabeça pra todos, porque sempre me coloquei como a errada. a menina nervosa que estraga tudo. que não consegue manter um relacionamento. que não consegue ficar quieta quando algo lhe machuca. que não consegue ser feliz todos o dias. a menina que sempre chorava antes de dormir porque era o único lugar que se sentia ela. mas isso me afogava. eu me afogava todos os dias por não conseguir ser do jeito que queriam que eu fosse. me perguntava diariamente o que eu deveria fazer. como eu deveria ser. não é uma questão de ser aceita, mas uma questão de que era a única maneira que as pessoas me deixariam em paz. eu não consegui. eu não consegui mudar. não consegui gostar de coisas forçadas só porque todos gostavam. não consegui deixar de lado quem eu era para agradar a família dos outros.
uma vez me disseram que eu nunca iria conseguir ser feliz se não fosse ficar com aquela pessoa em questão.
eu acreditei muito nisso. eu sempre levei muito a sério o que meu coração sentia e era como se eu fosse fiel a mim mesma. e fui. fiel a quem eu sou e a quem eu amei. e eu nunca consegui mudar esse jeito. nunca consegui disfarçar que eu não tava bem, que eu não gostava de piadas maldosas ou de comentários escrotos. nunca consegui. nunca. e eu perdi muito por ser assim. e aí continuei a me culpar. continuei tentando ser quem eu não era. tentei. tentei por dias ou meses, não me lembro. mas tentei. tentei ser uma ana clara que as pessoas não reclamassem. porque sempre teve uma reclamação. sempre. s-e-m-p-r-e. "nossa, essa menina vive de cara feia", "como você consegue estar com ela", "você precisa mudar", "você é muito estressada". eu já tinha me acostumado a isso. e eu parei de me importar aos poucos. ok, eu confesso que a terapia me ajudou muito em me conhecer. ficar sozinha durante um tempo me ajudou ainda mais.
uma vez me disseram que eu nunca iria conseguir ser feliz se eu fosse assim. mas o nunca é muito tempo e a vida é rápida. e eu aprendi a me aceitar, aprendi a me julgar menos (ainda cometo erros, é claro), aprendi a me respeitar. e aprendi que eu posso ser quem eu quero ser, que não é isso que faz de mim uma pessoa ruim ou não. tá no caráter, na essência. é uma coisa que ou você é ou você não é. ninguém consegue sustentar uma mentira por tanto tempo. ninguém. ninguém consegue fingir ser uma coisa por muito tempo. e eu sei disso porque vivi isso. eu vi isso. e eu vi que é possível perder tudo e ganhar de novo. porque o universo devolve aquilo que merecemos. quem diria que eu, depois de tantas idas e vindas, iria conseguir sorrir de novo? quem diria que eu iria conseguir fechar os olhos pra beijar alguém e sentir que o mundo inteiro parou de rodar naquele instante e que não existe passado, não existe nada, só existe o ali, aquele momento em questão. e você fez isso na minha vida. você surgiu desavisado, como quem não queria nada, mas quis, e me quis do jeito que eu sou, e nunca me julgou por isso, e isso me deixa bem, confortável. você entende, você suporta, você não me impõe limites. me incentiva. me dá bronca quando não digo que não estou bem mas que é uma bronca sincera de quem quer o meu melhor. me faz perder o medo. me faz perder a vergonha. me faz acreditar que eu posso, que se tem uma coisa que posso é poder. me faz sentir que a vida pode ser melhor. que ela é melhor. que dói, mas que dá. que se a gente vai junto, se apoiando, do nosso jeito, dá. me faz acreditar que nem tudo está perdido e que eu não sou um monstro como disseram. me faz acreditar que eu sou capaz. que dá. que dá sim pra viver e não apenas sobreviver. você me faz acreditar que o hoje é bom. que mesmo eu tendo problemas com ansiedade e tristezas eu não sou uma má pessoa. me faz acreditar que dá, que dá sim pra se apaixonar por alguém que você conheceu há quatro meses. que dá. que sempre dá pra ser. basta a gente querer. e fazer. você veio pra me mostrar que um relacionamento é muito mais do que uma troca de amor. é respeito. é carinho na mão enquanto o outro dorme. é silêncio quando precisa. é "cheguei" ou "vem logo". é buscar água pro outro. é dormir todo torto porque os dois não cabem na cama de solteiro. é abraçar durante a noite e se sentir a pessoa mais sortuda do mundo por ter aquele ser cuidando do seu sono. é fazer o bem ao outro sem querer nada em troca. é rir quando o teu cílios passa na bochecha. é você. e isso basta.
CONVERSATION
olha só, moreno
eu não queria chorar de novo e eu sinto muito por você ter que secar minhas lágrimas, assim, logo de cara, mas meu coração é sufocado pelo peso das minhas angústias e mágoas e medos que ainda percorrem involuntariamente cada uma das minhas veias. a culpa não é sua ou de alguém, nunca foi e nunca será. é algo que infelizmente não consigo ter controle total e eu estava tão angustiada, com tanta vontade de sair correndo pelas ruas e gritar o que tanto me aflige mesmo sem saber mensurar o tamanho dessa dor que invade cada um dos minutos do meu dia. eu não queria ter tido uma crise na sua frente e eu sinto muito por você ter que me segurar para não cair, assim, na frente daquele trem lotado, mas meus pensamentos são traiçoeiros e é como se um filme mudo passasse a cada segundo que seguro a respiração para não sofrer e para não chorar. a culpa não é sua ou de alguém, nunca foi e nunca será. insisto em dizer isso porque é algo que infelizmente ainda estou tentando curar e que aos poucos desaparece, mas que volta à tona quando o meu coração mais pede por proteção. e você me protege e eu acho lindo a forma como você segura meu pescoço nessa tua mão quentinha, e me cura de todos os meus pesadelos. quando você diz que não confio em você, me dói todo o meu corpo por você achar que eu não quero falar, que eu não quero entregar a minha vida em tuas mãos, mas a verdade é que é difícil, desculpa, mas ainda é difícil. mas não fala mais, por favor, porque desde o primeiro dia que vi você passando por aquelas catracas da consolação eu senti que todas as minhas más recordações seriam preenchidas com novas memórias preferidas. porque você é assim. nunca ninguém tinha se importado comigo indo chorar dormindo e você me colocou no teu peito e me permitiu chorar sem julgamentos. poxa vida, você tem noção do quanto o teu zelo mudou a minha vida? do quanto os meus problemas vão embora quando você diz "sabia que você é linda?". eu esqueço de tudo quando dá hora de te ver, e eu fico brava porque não está chegando e eu penso "puta merda porque tão longe" mas aí eu lembro que essa distância aumenta a minha saudade e quando eu finalmente te vejo meu coração acelera de uma maneira que eu não sei explicar, mas acelera, e parece que eu não vou respirar, mas eu respiro porque eu preciso estar viva para continuar te vendo. meu deus do céu, eu sou tão exagerada, como uma aquariana nata com a lua ou sei lá que em gêmeos, eu jamais deveria ser assim, mas sou, e eu não consigo sentir mais ou menos, ou gostar mais ou menos porque é você. você cheio de coisas nada a ver comigo, mas com outras tudo a ver, me fez acreditar que o amanhã existe, que dá pra continuar, que dá pra morrer e voltar à vida em uma só vida porque existe outra vida que está esperando pela minha. loucura? eu sei, estou em prantos porque eu queria que você soubesse que desde que você disse que um dia achava que a gente se casaria e eu pensei comigo "aff, deus me livre" mas mal sabia eu que você seria a pessoa que me traria forças para continuar e pra ser quem eu quero ser, porque com você eu sinto que posso e posso, assim como você deve ser/fazer quem quiser ser, porque é você e a gente vai levando assim, no nosso jeito, como você diz. eu não queria dizer tudo isso em texto, mas eu choraria e eu acho que você não pode e não deve me ver chorando mais, porque não quero te preocupar, não quero te sufocar e te trazer mais pensamentos nessa tua cabeçona, por isso eu disse tudo aqui nesse textão alá caio fernando abreu de facebook, ai meu deus, como eu sou brega, mas ok. você entende, porque você provavelmente vai estar rindo agora, ou eu vou te chamar pra contar alguma piada de pontinho ou te mandar a dori, mas enfim, só queria que você soubesse que a tua vida já mudou a minha. obrigada por aparecer e mudar toda a minha percepção do que é e do que a gente pode ser ainda na mesma vida.
CONVERSATION
bem-te-levarei
Eu me vi de novo naquele quarto abafado e apertado. e essa deve ser a parte mais difícil da existência:
ter que aguentar as lembranças.
mas a verdade é que tudo pode se transformar
e dar espaços para novas memórias
novas memórias preferidas
como aquela risada engasgada
ou aqueles cachos do cabelo perfumado
é, acho que isso é a parte boa de existir
ter a chance de viver essas coisas que trazem
arrepios frios
e eu não me importo
não me importo de que lado você está
de que forma você come
qual a sua cor favorita
teu santo, seu partido, seu gosto musical
não me importo
de qual cicatrizes ainda não fecharam
de quem você cuida nos pensamentos
qual é o teu cavaleiro do zodíaco preferido
qual é o teu swin
que perfume você usa
a cor dos teus olhos
qual dogma você segue
não me importa nada
nem de quantos amores você teve
ou quantos beijos dela você ainda sonha
ou em que filme,
música
ou cidade que você mora.
o que me importa é ter a chance de existir ao seu lado
aqui
e
agora.
Eu não sei quase nada sobre a vida,
suspeito que você também não
mas começo a entender que a nossa festa pode ir mudando
com passos cada vez mais próximos
então, para
desacelera o tempo
fica
e vem comigo no caminho
bem-te-leverei,
vem.
CONVERSATION
sobre o que eu espero disso tudo
Minha melhor amiga me perguntou se eu estava feliz. Um amigo
do trabalho perguntou o que eu espero de você. Parei para pensar nessas duas
perguntas e percebo que estou feliz e não espero nada. Calma, não é rispidez da
minha parte. É porque percebi que têm coisas que acontecem sem
precisar planejar, esperar, pedir ou ter, necessariamente, final. Inclusive
nós, querendo ou não, já acontecemos, independente do ser ou do estar. Entre
tantas definições que pensei em colocar aqui, penso que simplesmente:
acontecemos. O que vem depois, prefiro não rotular. Por isso, quando achar que eu estou sonhando demais, pode me
acordar pra realidade, mas me acorda com um beijo e me mostra que o presente é
um lugar mais bonito do que o futuro. Só quero de ti o hoje. Só quero ver você jogando seus jogos tranquilamente, só
pra poder ver você olhando para trás para constatar que eu estou te vendo. Só quero ouvir você me contar como foi o seu dia enquanto eu
fico acariciando o seu braço e te olhando com cara de dori. Só quero te
ajudar com os seus trabalhos quando você estiver doente ou sem tempo. Só
quero encostar minha mão gelada nas suas costas num dia frio até você me xingar
e eu pedir pra você me esquentar. Só quero acordar ao seu lado, antes de você, pra te observar dormir. Só quero aquela mensagem dizendo que o meu cheiro ainda está
na sua roupa. Só quero pegar a sua mão com força e beijá-la quando você
estiver aflito. Só quero deitar no seu peito quando eu estiver ansiosa com
a vida. Só quero que continue acontecendo. Só quero que a gente aproveite
dos pequenos momentos pra se fazer feliz, sem rótulos ou promessas. Do nosso
jeito.
CONVERSATION
Alguém pare o homão da porra de facebook
Os homens, tomados por sua masculinidade tóxica, criam uma complexa síndrome de don juanismo, a qual não apenas destrói suas parceiras, como a si mesmos. E como eu sei disso?
Ora, eu também conheci o famoso homão da porra.
Inclusive, ele leva esse título até hoje pelo que pude reparar. E a vestimenta faz jus ao que ele prega. Sabe de cor e salteado todos os poemas do Neruda. Conhece todos os versos de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e músicas chicletes que toda guria gosta de ouvir. Ok, é o famoso fã de Los Hermanos que aprendeu a tocar Último Romance no violão pra conquistar a(s) mulher(es) amada(s). Quem nunca fez algo parecido pra chamar a atenção, não é mesmo?
Eu nunca, até porque só aprendi uma única música no teclado.
Ah! E como poderia me esquecer... o cara é roots. Usa umas camisetas de banda, defende o socialismo e a luta de classes com unhas e dentes, escreve uns textão de Karl Marx (e ainda diz que é dele mesmo) e fuma um cachimbo quando bate a bad.
Ora, temos essa máxima também: é legal se passar por fracassado e implorar atenção. Era tido como o aluno mais chato da escola, não lia um livro se quer a não ser os de autoajuda. Hoje, coleciona livros que nunca leu de autores que nem sabe de onde vieram. Gosto de dizer que é um "João vai com os Outros", porque não pode ver ninguém ouvindo uma música ou lendo um livro que já está lá no dia seguinte torrando o cartão de crédito da sua mãe pra comprar tudo do autor.
Que fase!
Também não podemos nos esquecer que todo homão da porra é bom de cozinha. Nossa, que maravilha! O cara faz o melhor arroz com feijão da região e, pronto: já merece o prêmio Michelin. Pesquisou tudo no Ana Maria Brogui e acha que tá abalando. Quem nunca fez um miojo e colocou uns pedaços de frango/carne pra dar um ar sofisticado ao prato?
Eu nunca, detesto miojo.
Mais pertinente do que nunca: “o poeta incompreendido da nossa geração”. Escreve poesias a sua musa inspiradora, óh imaculada, que ao olhar no fundo dos teus olhos consegue ver todo o seu futuro e destino. Meio Crepúsculo isso, não? Aquela parada de imprinting ou sei lá que porra que é essa.
Aí o cara faz o que? É um “macho chato” (amo esse termo!). Cresceu numa família onde teve tudo o que queria, estudou nos melhores colégios, teve as melhores roupas, viajou para os melhores lugares, comeu nos melhores restaurantes, sem pagar UM CENTAVO do próprio bolso e ainda se diz que é um fracasso exemplar, alá Walter Benjamin?
Eu realmente não entendo.
Aí o homão da porra sai da barra da saia da família. Cadê toda essa masculinidade na hora de trocar a porra da tomada? Na hora de fazer o pf? Na hora de limpar as cuecas borradas? Ué, pera lá... Não é isso que ele diz no facebook? Que é o cara dos sonhos de toda menina?
Mas gente... será que NINGUÉM nesse mundo enxerga que as pessoas são assim para atrair a confiança de alguém? A gente ilude o outro com aquilo que achamos que temos de melhor. Mas a gente, muitas vezes, não somos isso. A gente não tem nada de “OHHHH” para oferecer a não ser o que somos. Por que bajular pessoas que não fazem o que pregam? Por que bajular homens que fazem qualquer coisinha achando que eles são O HOMÃO DA PORRA?
Nessa premissa, um homão da porra é o que? Um personagem que desmorona aos poucos e se reconstrói; um ser humano frustrado, e não um príncipe literário às avessas; um protagonista de um filme que representa o estudo do masculinidades tóxicas no homem moderno.
Por que a gente romantiza um ser desse? Queremos o que? Uma geração sequelada de homem que ainda não aprendeu a pagar a própria conta no bar sem pedir dinheiro para a sua mãe?
Como diria o poeta, “deus me dibre” conhecer um homão da porra de novo.
CONVERSATION
Daquelas coisas que a gente leva tempo para enxergar
Você nunca tinha tempo para me ouvir falar do meu escritor favorito, mas eu aceitava. Eu sentia saudade de você, mas você parecia nunca ter tempo quando eu realmente precisava. Queria chegar em casa e te contar como foi meu dia, ouvir sobre as tuas aulas, ou qualquer coisa besta que você fazia durante a tarde inteira sem nada para fazer. Mas você era ausente. Você não estava querendo ser presença, mas eu aceitava.
Eu sempre fui a pessoa que aceitava o que era me dado, ora pequenos instantes de alegria, ora aqueles momentos que eu sei que eu poderia atrapalhar. Me deparei com você puxando assunto com outras pessoas e dando margem a uma conversa que me desrespeitava. No fim, você me dizia que só estava querendo ser simpático com os outros, quando na verdade, você não estava preocupado em me respeitar. Tudo bem, eu aceitava.
Quando eu te flagrei flertando outras pessoas e retribuindo uma paquera, você disse que só estava tentando fazer novos amigos. Você não estava a fim de ser sincero comigo, mas eu aceitava. Só não enxergava. Quando eu te questionava você me chamava de desequilibrada, dizia que eu estava louca para tentar me convencer de que eu realmente não te merecia. Você não estava a fim de ser sincero comigo, mas eu aceitava.
Quando percebi o quanto você mentia, pedia explicações e você sempre começava a conversa dizendo que me amava e terminava a discussão dizendo que eu viajava demais. Eu voltava para meus problemas achando que o erro era em mim. Você me pedia desculpas, mas não durava muito tempo para fazer os mesmos erros novamente. Você não tinha intensão alguma de me levar a sério, mas eu aceitava.
Eu não enxergava.
Levei muito tempo para enxergar, mas eu realmente precisei passar por tudo isso para entender que o meu mundo não deveria girar em torno de você. Demorou muito tempo para enxergar que você não merecia mais nenhuma lágrima ou qualquer coisa que viesse de mim. Eu tive que suportar a saudade e a falta que você me fez para só assim saber que saudade boa não dói, e sentir falta de alguém que escolheu ir embora não vale a pena. Eu tive que aguentar o vazio que ficou para aprender como decorar sozinha esses espaços enormes que você deixou com pedaços de mim mesma.
Eu não enxergava.
Demorei tempo demais para enxergar, mas hoje eu percebi que tudo o que dizia aos quatro cantos do mundo eram apenas fragmentos do cara fracassado que você sempre foi, porque ninguém em sã consciência diz a mesma coisa para o amor da sua vida, e depois diz para uma pessoa que acabou de conhecer. Eu preciso crer que as pessoas não são rudes como você é.
Levei muito tempo para enxergar que você estava mal-acostumado, porque eu sempre estive aqui. Eu nunca havia partido de fato, e você sabia, porque todas as vezes eu te desculpei, todas as vezes eu acreditei em você. Todas as vezes eu apostei em você. Mas você não estava maduro o suficiente pra perceber isso. Você não foi homem o bastante para entender que a menina que você conheceu se tornaria uma mulher um dia, que seria capaz de rebater as suas traições, as suas mentiras, as suas esquisitices e as suas filhadaputagens.
Eu sei, demorei tempo demais para enxergar, mas depois de você eu passei a não ter mais paciência pra tolerar erros, pra engolir tantos defeitos, e aceitar repetições dos outros. É que todo mundo parecia carregar um pouco de você, e então, eu evitava me envolver. Erro meu.
Mas eu não enxergava.
Não enxergava que o tempo passa, e a gente começa a perceber que a decepção dói mas não mata, e é com ela que a gente deve aprender a lidar e amadurecer pra vida. Depois de você eu finalmente aprendi que isso nunca foi uma perda, foi um favor que você fez pra mim. Aprendi também que nem o amor, nem ninguém tem culpa disso. Ninguém seria capaz de fazer o que você fez. Demorei pra enxergar, mas depois de você, eu amadureci.
Demorei tempo demais para enxergar, mas eu finalmente consigo mensurar que o amor que eu senti por você foi real, e mesmo que no final de tudo tenha doído em mim, uma coisa eu aprendi com tudo isso: que eu não te perdi, eu me livrei.
CONVERSATION
por sempre, não poderíamos
ter que te deixar foi a coisa mais dolorosa que eu já passei depois que vi minha querida Lu ir embora. é engraçado como as coisas que mais doem são aquelas que somos obrigados a deixar ir sem a nossa aprovação. eu falo isso não como um clichê bobo, como disse um cara que conheci há um tempo atrás. mas eu falo isso lembrando de todas as surras que tomei. de todas os tropeços que tive que me reerguer sozinha. eu falo isso lembrando que você sempre esteve aqui quando me faltava o mundo, mas quando eu te deixei ir, eu perdi a minha única referência sobre o porque existir.
te deixar ir foi além. muito além disso tudo.
e eu te falo isso não por peso no coração, mas por lembrar que eu não tive coragem de me despedir. eu não tive coragem de dizer adeus, mas eu disse porque só assim nossa história se encerraria. eu terminaria o livro, acabaria o filme. e acabou.
porque eu não podia mais ficar. porque não era só a mim que as consequências atingiriam. à você também.
eu tive que pegar aqueles dez anos e jogar fora, porque nós dois não éramos mais uma possibilidade. eu tive que pegar nossas histórias, apelidos e momentos juntos e esquecer pra poder ir embora.
e apesar de toda dor
te deixar ir foi além. muito além disso tudo.
foi a possibilidade de me reencontrar e me permitir voltar a ser a menina capaz de sobrevoar o próprio abismo
CONVERSATION
(...)
CONVERSATION
sobre a estranha visita que cisma em habitar em mim
CONVERSATION
sobre quando até o eterno tem um fim
CONVERSATION
último vagão
Ok, vocês tinham razão.
O amor é mesmo uma coisa louca. Do mesmo jeito que ele é capaz de acabar com toda a sua perspectiva de vida, ele te recoloca nos eixos novamente. E te mostra um novo caminho. Não sei como, mas mostra. Às vezes esse caminho vem disfarçado com complicações. Noutras, em pessoas. Ou somente naquela pessoa capaz de te deixar em paz, finalmente.
Foi assim que percebi que o amor é capaz de muita coisa. Me garantiram que eu nunca mais poderia caminhar novamente, e eu aceitei achando que tudo estaria resolvido assim. Mas foi aí que percebi mais uma vez que a gente pode fazer o que quiser. Imagina só se eu não tivesse entrado naquele lugar naquela mesma hora que você. Talvez a vida tivesse sido diferente. É como se eu tivesse entrado num vagão de metro e você estivesse ali, a única pessoa sentada enquanto todas as outras estavam em pé, em seus respectivos mundos. E a cada passo, um mais próximo de você. "Ainda vamos nos casar um dia", tu disse. Eu sorri e me senti completa. E você não sabia da minha história. E eu não sabia da sua. Mas mesmo assim era como se naquele mesmo vagão só existisse eu, você e uma imensidão para conhecer do futuro.
Ainda assim, meus olhos teriam olhos para você. Mesmo com toda aquela gente em pé, entrando e saindo do metrô, eu só conseguira ver a tua vida. Tantas pessoas, tantas outras vidas e eu só teria tempo para te ver. Porque é assim que eu imagino. E eu seria capaz de decorar todos os teus textos preferidos pra te dizer nessa viagem. Tentaria acalmar a luz que insiste acender quando você está prestes a dormir.
Eu te vejo e penso, e entendo que, talvez, por algum motivo que eu desconheça, as derrotas na minha vida finalmente fizeram sentido porque tudo o que passei, cada lágrima e cada pedaço que havia perdido me trouxe até você. Nesse teu caminho. É como se nessa viagem de poucas horas dentro do vagão dos teus olhos, eu soubesse que você é dono da voz mais gostosa de se ouvir. Que eu precisasse dela pra enfrentar os dias. É como se eu te olhasse de longe e já soubesse que teu beijo arrepia cada parte do meu corpo e minha bochecha fica quentinha toda vez que vai chegando mais perto, seja com o toque dos seus lábios ou com o seu nariz quentinho no meu.
Pode ser uma loucura, uma coisa de gente apressada, ou não, mas talvez se eu não tivesse entrado naquele lugar, ou nesse trem hipotético que é a sua mão na minha, talvez hoje, eu não tivesse motivos para acordar de manhã e procurar ser melhor que a dor. Eu não estaria procurando pelas piadas mais idiotas, ou pelas minhas frases mais intensas pra te dizer. Eu, talvez, nunca saberia a sensação de me sentir em paz por beijar suas costas, passar a mão lentamente naquela parte entre a nuca e o começo dos seus cabelos. Pode ser que não seria tudo dessa forma, você poderia passar despercebido, eu poderia não ter notado a tua vida, e o trem continuaria seguindo a sua viagem até o fim.
Mas é aí que percebo que o amor é capaz de muita coisa. Que outra coisa poderia ser capaz de me fazer desejar a possibilidade de acordar de manhã ao tem lado com a mão estendida para a minha?
CONVERSATION
Será que estamos prontos para o “para sempre”?
Em algum momento da sua vida, tenho certeza de que já disse que viveria para sempre. Que aquela sua amiga é para sempre. Que o seu vestido favorito vai durar para sempre. Todo mundo quer um amor que dure para sempre. Daqueles amores que só irão morrem juntos e de mãos dadas, depois de longos 50 anos de casado.
Mas será que estamos prontos para amar alguém para sempre? O que será que sustenta uma relação de tanto tempo assim? Eu ainda tenho a péssima sensação de que a gente acaba as histórias antes delas terem a chance de realmente começarem.
As brigas ficaram surreais. “Por que você não posta uma foto comigo?”, “Por que não curtiu o que escrevi para você?” ou “Quem é essa pessoa que você está adicionando?”. No que diabos a gente transformou o amor? Por que não respeitamos quem gosta da gente? Quem foi o infeliz que inventou que responder rápido uma mensagem quer dizer que você está se rastejando? Ou se demora pra responder é porque você não está mais interessado na pessoa?
Eu não sei dizer o que se perdeu no caminho.
Eu conheço algumas histórias de amores que sobreviveram as décadas sem grandes problemas. Porque na minha cabeça, o para sempre é uma entrega diária. É uma batalha que a gente se esforça para nunca ser o vencedor sozinho.
E a gente complica. Tem tanta coisa errada. É como o meu caso: me transformei em tijolo por achar que nunca mais viveria um amor daqueles de queimar todos os seus órgãos por dentro. Eu sei que há histórias que duram pra sempre em seu respectivo tempo. Já conheci pessoas que eu me apaixonei loucamente e durou o tempo necessário no meu coração.
Mas a questão é que ficamos egoístas. Não cuidamos de quem queremos. Não temos forças para enfrentar as dificuldades. Na terceira briga, já desistimos. A gente tem preguiça de aguentar as pessoas. Estamos nos entediando rápido demais. Perceba os monstros que nos tornamos e o quanto quem antigamente era fundamental, hoje não passa de um tanto faz. Planejamos o próximo fim de semana, não a viagem do ano que vem, que até lá pode sofrer dificuldades.
A gente quer uma coisa, mas fazemos outra. Queremos um amor para sempre, mas estamos jogando fora todos os candidatos. Exigimos muito como se fôssemos tudo isso também.
Será que a gente consegue manter alguém por perto durante um para sempre verdadeiro?
CONVERSATION
daquele corpo tão quentinho
CONVERSATION
o lado vazio do peito;
Será que ainda dá tempo de acreditar no amor? Naquele amor capaz de borbulhar cada gota de sangue do teu corpo, como se tudo fosse "fogo que arde e não se vê"? Eu te odeio por isso. Odeio porque você tirou a única coisa boa que eu tinha em mim: esperança no amor. Porque eu acreditava. Eu acreditava tanto que o amor pudesse mudar a vida de uma pessoa. Que o amor pudesse salvar alguém quando mais nada tivesse saída.
Amar é um grito. Amar é uma eterna palavra em capslock, mesmo quando é sentido apenas bem baixinho, naquele "eu te amo" ao pé do ouvido ou no silêncio do olhar apaixonado. Eu acreditava nisso, nessa simplicidade, no plural. Que amar era recheado de planos eternos e vontades de ficar juntos. Porque eu achava que um "eu te amo" era um soco, um murro, um atropelamento indolor. Como um trem descarrilado que só saber amar. Eu amava o amor. E amava por amar. Eu acreditava que o amor era uma rua de mão única, mas que adora se tornar via dupla.
O tempo passa, o coração se gasta e eu fico esperando aquela pessoa correr pra pegar o mesmo elevador que eu. Aquela pessoa que cruzará a rua na minha frente e tornará o dia mais claro. Um cara que me traga uma bebida numa noite. Ou um moço que me olhará a alma durante um show da minha banda predileta. Mas eu me tranca em casa, sem entrar em elevadores, ruas, festas ou shows.
Eu me tranco atrás desse muro que construí no meu peito. Eu preciso parar com essa mania de colocar os problemas em uma mala e sair carregando por aí como se eles fossem essenciais. Não são. Aliás, tudo que te faz mal é completamente descartável.
Não consigo acreditar mais em nada. As pessoas enganam e machucam. O amor dói. Amar dói pra caralho. Olho para o céu. Converso com essas letras mudas que mal traduzem a histeria das minhas saudades tuas. Continuo acreditando que alguém conseguirá ouvi-las. Há um aperto enorme em meu peito. Vez em quando, é ate difícil respirar. Lágrimas saem como transpirações. Respostas deste corpo que exige a presença de alguém que me faça acreditar, novamente, que o amor ainda vale a pena.
CONVERSATION
olha só, rapaz
Era como se eu pudesse te falar ou te cantar, assim, na cara de pau, loucamente com as palavras do Benedetti ou do Neruda. Eu só te digo que não vou esperar pelo o amor em vão, mas você não entende, parece que não pegou a referência em português de uma música em inglês, num tom de quem é quase bilingue e eu só queria mesmo que você entendesse qualquer um dos meus idiomas ou formas de falar para você aparecer ou deixar que eu apareça, agora e no dia seguinte. Talvez no próximo dia, também, sei lá, vai que você queira ir numa exposição e pense que eu possa gostar de algo. Estive tão perto de você, que às vezes eu lembro do meu desejo de que apareça alguém – que na verdade era você - me dizendo que vai ficar tudo bem, que me conforte e me faça carinho e assim eu me esquecerei de toda a minha tristeza, porque haverá uma mão sobre minha cabeça, enquanto me consola e diz coisas boas e reconfortantes. Eu desejo isso, às vezes. Mas, não sei se já reparou, que o mundo inteiro do meu interior faz grave greve, costura meus lábios feito tricoteiras sábias do Nordeste, bonitas, mas que não me permitem dizer nada além do comum oi-como-vai-eu-vou-bem-que-bom-que-você-também. O amor quer que eu seja rebelde. O desamor me faz ser careta. No meio disso tem eu: um completo vazio recheado de dúvidas sobre o futuro, tristezas do passado e uma vaga esperança de que agora é a minha vez de ser feliz. Será que são as forças do Universo que me compelem a cair, mas sempre me levantar no final? Talvez sim. E isso é a melhor coisa que eu poderia desejar. Um corpo saudável, uma mente quase sã, mas que tem toda a capacidade de fazer coisas incríveis. Basta eu querer e desejar. E eu te desejo tanto. E eu gosto tanto de você. Como que diabo não percebe? A culpa não é tua, que fique claro. Eu só fico divagando em frente a este computador nove horas do meu dia. Sempre me orgulhando da profissional que me torno, mas nunca do meu coração que está cada vez mais vazio e que queria cada vez mais você.
CONVERSATION
feito pedra
“Lá no fundo você é a mulher dos sonhos”
Talvez.
Não sei se ainda há motivos para acreditar no que ainda
posso ser. Lá no fundo? É estranho, difuso e complicado de entender. Ainda dá
tempo de ser alguma coisa? Mas, só lá no fundo? E aqui no raso? É difícil de
engolir e de aceitar.
Quiçá.
Joguei tudo o que já vivi ao vento, ao tempo, como aqueles
meninos do filme que assisti ontem à noite que jogaram algumas pedras ao mar e
torciam para que elas não afundassem de primeiro, mesmo sabendo que lá no
fundo, no fundo, no fundo mesmo, todas irão afundar.
Quem sabe.
Não quero saber de lá no fundo. Quero falar do ainda aqui.
Nesse corpo que mostro. Nessa pedra que carrego. No instante que a pedra sai da
minha mão. Eu me preparo. Eu calculei a força e a distância. Eu lembro de todas
as outras vezes que deram errado e ajeitei meu corpo para criar um ângulo ideal
para a tal pedra alcançar a perfeição do voo. Tentei escolher uma pedra que, ao
meu ver, tinha mais chances de flutuar.
Possivelmente.
Numa doce esperança, imaginei-a flutuando por muitos e
muitos dias. Quem dera anos. Eu estou aqui: nesse milésimo de segundo que
antecede o arremesso. Minha perna de apoio se dobra. A de impulso se estica.
Todo o meu corpo irá, agora, funcionar em razão a esta pedra que deposito toda
a fé que eu não tenho, e creio que ela irá voar sobre o mar realizando os meus
desejos mais genuínos.
Decerto.
Eu torço. Ainda que difícil. Apenas torço para que o vento
não atrapalhe o caminho, porque só depois de lançar eu lembro que não me
atentei à dinâmica do vento. Eu torço. Ainda que por instinto. Apenas torço
para que as ondas também não atrapalhem o caminho. É claro que pode não ser um
mar revolto. Mas que mar não é revolto de vez em quando?
Às vezes.
Não sei medir quantos mares podem se revoltar. Ainda torço.
Mas e o peso da pedra? Será que ela é tão leve quanto o necessário para seguir
viagem? Será que o mar irá aguentá-la? E a força que eu coloquei para atirá-la?
Talvez a pedra nem tenha saído da minha mão, mas eu já me enchi de
questionamentos.
Talvez.
Porque o ainda está agindo. Eu torço. Eu peço aos deuses,
mesmo não sabendo ao certo se há alguém lá em cima torcendo tanto quanto eu
pela pedra. Eu até tento ter fé, mas não sei a quem pedir por um milagre.
Porventura.
"Talvez eu ache algo mais forte, que faça eu me sentir
melhor. Depois do que eu já andei. Depois do que eu tenho que andar". Eu
me perdi. E me encontrei em referências musicais enquanto é “talvez”. Músicas me
acompanham neste momento de ilusão e ironia do tempo. São segundos entre a
pedra sair da minha mão, alcançar o mar e flutuar ou não por ali.
Por acaso.
A pedra saiu da minha mão. Eu me preparei. Dei o meu melhor.
Torci. Tive fé. Rezei todos os mantras, aos meus artistas favoritos – musicais e
literários. Eu acredito no talvez. No “talvez” aqui de fora, não lá do fundo.
Mas agora já não há mais nada que eu possa fazer:
eu sou a pedra.
CONVERSATION
onde mora a lucidez
Olha, eu sei que a vida anda difícil e tropeçando, mas eu
preciso dizer que gostei de você. Não te disse, como você também não disse.
Gosto de pensar que no fundo você soube. Pena que as cabeças confusas não
saibam amar. Pena também que eu tenho vergonha de dizer, embora a gente não
deva ter vergonha do que é belo.
Sabe quando você fica tão feliz, mas tão inevitavelmente
feliz em ver alguém, que fica indignado? Porque, justo naquele dia, não deu
tempo de pentear o cabelo ou dar um tapa no visual, justo naquele dia, com cara
de semana passada e bochecha amassada. Mas, embora indignado, você não chega
sequer perto de ficar triste, porque é melhor ver aquela pessoa com a sua cara
toda estrunchada mesmo, do que não ver.
Tenho medo de morar aí a verdade.
No inevitável, sabe? E eu nem acreditava que ele existisse.
‘Maniacamente’ controladora, eu jurava que dava pra evitar qualquer coisa, até
o mais íntimo, mas eu conheci a turbulência de alguns sentimentos. Descobri, no
susto, que tem gente que só atrapalha. Só atrapalha o desânimo, atrapalha a
vontade de reclamar do dia, atrapalha a cara amarrada e até o cansaço. Acho que
é isso que me soa mais verdadeiro. O contra. O que consegue ir contra e ainda
brotar brilhante, ultrapassando todas as amarras nas quais nos encaixamos por
uma tal de sensatez.
O contra é aquela covinha na bochecha. Duas nas costas. A
clavícula nua que desenha o ombro, remontando tudo como um travesseiro. Um
corte irregular de cabelo; semi ondulado. Cílios enormes, que fazem sombra nos
olhos. Dentes levemente tortos, como os de gente normal. Olhos apertadinhos
possivelmente igual ficam no sol, fazendo uma caretinha. Risada de 4 segundos sem som. O
idioma indecifrável enquanto dorme. Conchinha com a coberta. Eu tenho sérios
problemas com detalhes. Não esqueço, embora que sejam rápidos.
E aí mora também uma lucidez: um simples carinho, às vezes,
derruba todas as minhas teorias.
CONVERSATION
das horas que custam o viver
ontem foi a primeira vez que eu chorei por você. a primeira vez depois desses pequenos longos meses que se passaram. doeu como quem bate o dedinho na quina do móvel durante a madrugada. doeu quietinho e frio enquanto eu tentava pegar no sono. ontem foi a primeira vez que me dei conta de que eu não lembro mais do timbre da sua voz. não consigo me lembrar de como eram a cor dos seus olhos quando você acordava. não me lembro do seu cheiro, do calor do seu toque nem da forma como você sentava no sofá pra comer. eu realmente não me lembro dessas coisas que eu amava em você. mas eu chorei. chorei porque entrei naquela loja de coisas para casa e lembrei da gente escolhendo cada utensílio. eu devo ter um problema muito sério por chorar só de lembrar de você segurando as panelas e vendo qual era a melhor para você cozinhar. é estranho chorar por um momento desses e nem sequer lembrar do gosto da sua comida. chorei porque lembrei da gente correndo naqueles corredores da loja procurando gastar toda aquela grana que ganhamos e a gente já não sabia mais o que comprar. aquilo ali era o que eu queria, sabe? essas coisas pequenas, tão bobas, mas tão verdadeiras. chorei por lembrar que eu não consegui fazer você ficar. não é uma culpa que dói, mas às vezes aparece quando eu preciso de forças pra continuar os dias. e me derruba. e me faz pensar em desistir. "quem vê pensa que você tem uma vida difícil", um guri me disse dia desses depois de ficar algumas horas ao meu lado. as pessoas não sabem da missa um terço, não é? que dói. que a vida dói demais para alguns. que não é frescura, que não é drama, que não é nada disso. dói. e é difícil. é difícil te ver se transformar na mesma coisa que meu pai foi pra mim. é difícil não se enquadrar, não ser aceita, não ter com quem conversar sobre as coisas que te machucam. é difícil as pessoas acharem que você é só um poço de besteiras, camas e outros corpos que não o teu. eu sou tão mais que isso, sabe? é difícil silenciar minhas dores e ter que aguentar o mundo todo falando das suas, mas quando chega a minha vez, ninguém prestar atenção. eu chorei porque lembrei que, toda pessoa que tentei gostar depois de você, me machucou ainda mais. chorei porque ninguém tem noção do quanto é difícil continuar. é difícil pra caralho. é difícil quando tem uma caralhada de gente pra julgar quem eu sou ao invés de me perguntar o que eu quero de verdade. eu ainda sou a mesma. eu jurei que seria fria, que não deixaria ninguém chegar perto de mim novamente, mas eu tava errada. e eu chorei porque você vivia me dizendo que eu era errada e talvez eu fosse, ou talvez eu estava na hora certa no meu tempo errado. chorei porque você me dói quando aparece nos meus sonhos ou quando alguém ainda cisma em perguntar como você tá. porra, e eu? eu chorei mais por mim do que por você, eu acho. dessa pessoa que tento ser e não consigo. essa pessoa capaz de esquecer qualquer dor para continuar. mas a verdade é que eu ainda sou a mesma. a mesma idiota apaixonada por qualquer sorriso besta que me dão. a mesma idiota que ainda sente arrepios na mão quando alguém me abraça ou quando alguém segura as minhas mãos. eu chorei porque lembrei do quanto você desgraçou a minha vida e em como eu sou idiota em ainda te perdoar. eu sou idiota em ainda acreditar que as pessoas se aproximam de mim porque eu sou alguém que vale a pena.
mas a verdade é que, no fundo, eu realmente não valho nada.
CONVERSATION
uma década resumida a ódio
Eu odeio sonhar com você.
Sei que odiar é algo muito forte, mas eu realmente odeio sonhar com você. Eu tenho esse problema sério com sonhos: todo mundo que passa pela minha cabeça durante essas noites conturbadas, eu não consigo esquecer durante o dia.
E eu odeio lembrar que você existe.
Não é tão simples quanto parece ser, mas toda vez que sonho com você eu me lembro de tudo até então. Lembro do quanto esperei pacientemente as ondas turbulentas dentro do teu peito passarem. Lembro que ajudei pacientemente a tentar fazer com que você preenchesse as lacunas que estavam abertas em seu coração.
Também odeio saber que esperei você passar pela nuvem nebulosa de tristezas, melancolias, duvidas e mudanças constantes de humor.
Tentei entender cada ponto existente e possivelmente criado dentro da sua cabeça. Mantive a paciência e segurei sua mão, em todos os encontros e desencontros que a vida lhe causou. Eu me perguntava todos os dias se eu tinha conseguido trazer paz para a tua alma, esperança para teus dias e um pouco de amor para seu coração.
A verdade é que eu odeio saber que você fez pouco caso com todas essas minhas tentativas.
E é nesse exato momento que lembro daquele dia no Parque da Luz que você chorou sem controle e disse “te amo, pequena”. Foi ali que descobri que talvez eu realmente morava em uma parte dentro do seu peito, foi o dia em que eu soube que estava tudo bem e que qualquer coisa a partir dali, poderia ser superada, melhorada e absorvida.
Mas eu odeio essa parte de ter acreditado tanto em você e na sua melhora.
Eu estava crente que nada no mundo poderia mudar minha concepção de que a vida tinha sido tão difícil até então, porque o melhor estaria por vir e naquele instante, o melhor estava dentro de nós e mais coisas boas aconteceriam. Eu acreditava fielmente de que a nossa história finalmente pudesse ser o que a gente tinha sonhado. Que nada nos faltaria. Que o amor seria capaz de qualquer coisa porque eu tinha você e você tinha a mim. Eu estava tão crente, que esqueci de reparar nos pequenos detalhes que faziam a total diferença.
Eu odeio ter demorado tanto tempo pra perceber do quanto a vida é fraudulenta.
Estava tão cega pelo que éramos e muito mais pelo que poderíamos nos tornar nos próximos anos, que esqueci de perceber que você não sorria mais quando eu entrava pela porta. Que a intensidade do amor tinha mudado, junto com as palavras carinhosas que tanto proferíamos um ao outro alguns poucos meses antes. Que a forma como você me evitava todos os dias era só um aviso de como poderia ser se eu não tivesse surtado aquele dia.
Por isso que odeio sonhar com você. Porque eu me odeio por não ter visto que já tinha acabado no dia anterior do nosso casamento. Que você já tinha abandonado tudo, o amor, o querer ver bem, o respeito, carinho, simplicidade e o futuro. Porque você estava bem e era só isso que importava.
Odeio saber que tínhamos um fim, dentro de um presente, que fazia nosso futuro jamais existir. Odeio ter consciência de esperar e pedir, incessantemente, para que as coisas fossem melhores e prosperassem como flores em uma primavera. Mas tem coisas, que não são pra ser.
E odeio, por fim, saber que nós não éramos, apesar dos esforços, não éramos.
Nunca seríamos.
CONVERSATION
Falta
Eu me dei conta de que sou
uma espécie de
atalho
para as pessoas: ajudo no caminho sem nunca ser o
para as pessoas: ajudo no caminho sem nunca ser o
ponto de chegada.
Não me completo porque no fundo eu espero algo que possa ser meu, mas que já pertence aos outros e porque todos já pertencem, de alguma forma. Ninguém é mais virgem de alma; coração. Carregam por aí paixões mal resolvidas, soluções mal apaixonadas, são metades vazias que não podem completar vida nenhuma.
Mais um café. Eu tomei quatro xícaras hoje pela manhã, enquanto o dia amanhecia chuvoso. Eu tinha parado de tomar meu remédio pra ansiedade. Mas tive que voltar hoje. Eu parei de ouvir Radiohead em fevereiro. "Fake Plastic Trees” me faz chorar com uma menininha que perdeu seu urso de pelúcia. Mas voltei a ouvir. Até meus vícios que me deixam tristes ou drogados voltaram; e nada do teu rosto voltar.
E é engraçado, porque eu não sinto sua falta. Eu não queria que você voltasse. Óbvio que não. Mil vezes não. Jurei a mim mesma não sentir mais falta de ninguém além de mim. E continuo com esta promessa de pé.
Eu sinto falta é de mim quando eu estava com você. Eu sinto falta da minha cara de boba quando eu te via concentrado lendo tuas hq's idiotas. Eu sinto falta das borboletas, águias e até dinossauros no meu estômago quando você dizia que me amaria pela vida inteira. Eu sinto falta do brilho dos meus olhos ao entrelaçar meus dedos aos teus e caminhar pela noite.
Falta de ter um amor multifacetado.
Desse que me dê a velha sensação de que tudo será eterno
desta vez.
Sinto falta de mim.
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Grande mentirosa, mais besta que a besta e dona de um coração “viciado em amar errado”.
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